Por Renato Rovai - Revista Forum
A Folha de S. Paulo do último domingo traz duas matérias que se tratadas (e os indícios todos é de que não serão) pelo restante da mídia com a mesma força das denúncias feitas pelo então deputado Roberto Jefferson levariam à lona a recém-lançada candidatura com banho de ética do ainda governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Assinada por Frederico Vasconcelos, uma reportagem de três páginas revela a ponta de um esquema de beneficiamento com verbas publicitárias administradas pelo governo do estado a veículos de comunicação vinculados a esquemas de parlamentares da base aliada do governador e pertencentes ao aparelho bicudo de informação. O “esquema lixão” de publicidade, se tiver sua caçamba aberta, vai fazer muito tucano cortar o bico para voltar a tratar de ética na vida pública. Até porque a reportagem só aborda as verbas da Nossa Caixa Nosso Banco, mas há indícios de que o esquema passe por outras empresas do estado e pelas próprias verbas de publicidade diretas do governo.
O tiro certeiro para que se abra já uma apuração do esquema na Assembléia Legislativa vem do deputado estadual Afanázio Jazadji, filiado ao PFL. Diz o deputado: “É óbvio que o governo Alckmin orientava a publicidade da Nossa Caixa”. O parlamentar ainda acrescentou que o governo teria cortado anúncios em seu programa pouco antes da eleição do deputado Rodrigo Garcia (PFL) para a presidência da Assembléia. Para quem não é de São Paulo ou não se recorda, na época, Rodrigo Garcia, unha e carne do vice de José Serra, Gilberto Kassab, disputou, com o apoio da oposição, a presidência da Assembléia com Edson Aparecido (PSDB), o indicado pelo governador. Garcia ganhou, mas para isso precisou colocar em sistema de colégio interno trinta deputados que o apoiavam. Um hotel em Atibaia, a 50 quilômetros de São Paulo, foi o local para o retiro dos parlamentares que poderiam ser “convencidos” pelo esquema Alckmin a mudar de lado. Ficaram incomunicáveis neste hotel por três dias, tendo até seus celulares desligados. De lá, partiram em ônibus fretado para a Assembléia e, só assim, Garcia venceu. Escondendo os deputados das tentações do governador.
Jazadji explica como funcionava o sistema de convencimento alckmista: “Cortou (a publicidade) porque eu não ia votar no candidato dele. Uma forma que ele tinha, como ‘olha, não vou mais anunciar no seu programa, não vou liberar mais isso’, um tipo de uma chantagem. ‘Vota no meu candidato que eu libero verbas’, prometeram mil e uma coisas, não diretamente ele, mas seus secretários, inclusive o pessoal que cuidava de publicidade”. É preciso perguntar ao deputado os nomes dos secretários e os nomes de quem cuidava da publicidade.
Mas, se as três páginas de reportagem sobre o esquema de direcionamento de verbas publicitárias de um banco público ainda não são capazes de ruborizar alguns bicos, talvez a cortante coluna social na mesma Folha, assinada por Mônica Bergamo, sirva para algo. Ali se revela que a primeira dama do estado tem hoje 400 modelitos de alta costura. Todos feitos de graça pelo estilista Rogério Figueiredo. E tudo, segundo ele, de primeira linha. “Tudo de dona Lu sempre foi importado, nada é nacional”, garante.
Figueiredo ainda revela como a primeira dama teria escolhido seu new style. “Ela queria adotar um estilo clássico, ‘tipo bonequinha de luxo’ e inspirado em Jacqueline Kennedy, a primeira-dama americana. ‘Numa viagem a Nova York comprei oito livros sobre a vida de Jacquie Kennedy.”’
Ao mesmo tempo em que a família Alckmin passa a ser mais conhecida dos brasileiros, no ninho tucano já se falava desde o começo da semana passada que a candidatura de Serra ao governo do Estado poderia ser só jogo de cena. O prefeito teria munição da grossa contra o governador e estaria disposto a usá-la até junho, quando acontece a convenção oficial do PSDB. Até lá, a candidatura de Alckmin poderia estar inviabilizada e Serra, que já teria se afastado do governo municipal, aceitaria o sacrifício de concorrer à presidência da República. Parece coisa de maluco, mas depois dessa edição de domingo da Folha tudo começa a parecer possível.
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2 comentários:
Eu só não entendi uma coisa: o Daniel vive dizendo pra mim que a Folha é tucana, que isso, que aquilo. Que não dá pra confiar na Folha, blá, blá, blá.
Agora, quando a Folha levanta sérias acusações contra o picolé de chuchu, aí eu posso acreditar na Folha?
Não tô entendendo mais nada...
Não posso ler a Veja porque é tucana. Não posso ler a Folha porque é tucana. (Não há objeções à Carta Capital, porque essa é uma revista "imparcialíssima"!). Mas se um tablóide inglês (desses sérios, sabe?) ou uma dessas revistas de fofoca criticar um governo tucano eu acredito? É isso?
Esse negócio de política é muito complicado pra mim.
Fora Fredo!!! Fora daqui!!! Você, o CCCP e o FMI!!!
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