05 maio, 2006

Joaquim Marques Ferreira Braga, o dr. Braguinha, aquele do Boulevard


Político e advogado sorocabano. (1872-1911). Foi uma das figuras públicas mais destacadas durante os primeiros anos da República Velha, em Sorocaba.
Joaquim Marques Ferreira Braga nasceu em Sorocaba, em 23 de Novembro de 1872. Era filho do importante político do Império e, posteriormente, da República, Antonio José Ferreira Braga e de Dona Maria Marques da Cruz Braga. Ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, formando-se em 1892, com vinte anos de idade.
Depois de formado, retorna a Sorocaba onde abre banca de advocacia e começa a se destacar como advogado, bem como a ganhar a simpatia da população por seu caráter generoso e despido de vaidade, atendendo a todos, inclusive pobres e operários, com igual presteza. Por conta de sua popularidade é que ganha o carinhoso apelido de Dr. Braguinha, também uma referência a sua baixa estatura.
Em Sorocaba, além da prática da advocacia, foi delegado de polícia e ocupou interinamente a promotoria publica da comarca. Mas, seguindo os passos de seu pai, entra para a vida política, tornando-se vereador e uma das lideranças políticas do sul do Estado.
Desse modo, Braguinha se envolve intensamente em um dos momentos políticos mais conturbados da República Velha. A crise política se estabelece em função da sucessão do presidente Afonso Pena. Pela primeira vez na República e, especificamente, desde que Campos Sales arquitetou a chamada Política dos Governadores, não há unanimidade entre os Estados mais poderosos sobre qual o nome a ser aclamado pelo Partido Republicano. Assim, as elites políticas de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro decidem lançar o nome de Rui Barbosa; enquanto Minas Gerais e os demais Estados apóiam a candidatura do Marechal Hermes da Fonseca.
Essa crise ganha forte repercussão na política sorocabana. Com efeito, o grupo liderado pelos Pires de Camargo apóia a campanha civilista de Rui Barbosa, enquanto Ferreira Braga sufraga a candidatura de Hermes da Fonseca. E justamente, durante a campanha se dá um dos episódios mais lamentáveis daquele período em Sorocaba. Quando uma passeata hermista é alvejada por uma série de tiros vindos da redação do Cruzeiro do Sul, então de propriedade dos Pires, à época localizada na rua Monsenhor João Soares. Ferreira Braga, que liderava a passeata, teve a aba do chapéu varada por uma das balas e, por conseqüência dos disparos, foram mortos os operários Lino Gonçalves, Belmiro de Oliveira e Gastão de Camargo.
A vitória de Hermes da Fonseca não significou um apaziguamento dos ânimos, uma vez que os civilistas passaram a fazer uma campanha sistemática contra o seu governo. Em razão disso, Pinheiro Machado e Quintino Bocaiúva, homens fortes do governo Hermes, criam o Partido Republicano Conservador (PRC), objetivando dar sustentação política ao presidente eleito, além de promover uma renovação administrativa e partidária em vários Estados (o que ficou conhecido como política das “Salvações”).
No contexto sorocabano, a conjuntura tampouco ficou mais amena. Ferreira Braga assume a liderança local do PRC e cria, juntamente com Antonio de Oliveira, o jornal Cidade de Sorocaba, no qual tece críticas contundentes à administração de João Clímaco de Camargo Pires. A situação se torna ainda mais crítica quando Álvaro Soares, em janeiro de 1911, assume a chefia do executivo local, com o apoio de Ferreira Braga.
Em meio a esse clima de convulsão ocorre o assassinato de Ferreira Braga, no dia 29 de setembro de 1911, às nove horas da noite, na então rua Direita. João Lacerda foi o autor do crime.Prontamente os opositores políticos de Ferreira Braga passam a divulgar a versão de que a motivação do crime foi exclusivamente pessoal. Os empresários Vicente e João Lacerda assinaram, em 1895, com a Câmara Municipal, um contrato para a iluminação da cidade. Contudo, por uma série de dificuldades não conseguiram atender aos prazos estipulados e, em 1900, o contrato é considerado caduco. Ferreira Braga era o advogado da Câmara envolvido na questão. Onze anos depois, surge a questão da adulteração do contrato, pelo qual Braguinha seria o responsável. Essa teria sido a motivação de João Lacerda para o crime. Tal versão foi consagrada por Aluísio de Almeida. Contudo, os partidários de Braguinha defendem que o crime teve motivação política. Para estes, haveria um conluio entre João Lacerda e os inimigos políticos de Ferreira Braga, que seriam os responsáveis por trazer à tona esse acontecimento ocorrido há mais de uma década, ou, até mesmo, supostamente forjado a adulteração do contrato.
O fato é que a morte de Ferreira Braga causou uma comoção na cidade. Centenas de pessoas foram à residência do político para sua despedida, assim como acompanharam a remoção do corpo até a estação da Sorocabana, onde seria levado para São Paulo. O jornal O Operário deu grande destaque ao episódio, prestando suas homenagens a Braguinha, por exemplo, um dos textos publicados se intitulava: “A memória de uma alma pura.”João Lacerda foi condenado por unanimidade a 25 anos de prisão, mais foi indultado alguns anos depois por bom comportamento.
Ainda em 1911 seria criada uma comissão visando à construção de uma herma em memória de Ferreira Braga. Ela seria efetivamente construída em 1915, onde está até hoje na Praça Coronel Fernando Prestes, defronte a rua em que foi assassinado e que passou a levar o seu nome.

Um comentário:

Eduardo (11)99651-7277 disse...

Daniel:Parabens pela pesquisa! Muito bom o texto.
Sou estudante de história e estou pesquisando sobre este pesonagem, será que você poderia me ajudar com algumas fontes?
obrigado!
edu78@bigfoot.com