Quando eu estava na faculdade, eu me lembro do marceneiro da oficina reclamar do nordestinos, que todos os criminosos que ele havia visto na cadeia eram “cabeça chata”, colocando todos os problemas nas costas dos migrantes vindos do norte. Das minhas colegas, futuras professoras, não se viu olhares de reprovação, mas um “ohh” com toda aprovação do mundo. Em quatro anos trabalhando na rede pública de ensino de São Paulo já ouvi muita colega reclamar de pobres e nordestinos. E não falo de advogadinhos da Faria Lima, mas gente que basicamente tem que trabalhar com gente pobre, de pais vindos do Nordeste e de negros.
Também já vi coisas nada agradáveis em sala de aula. Salas de primeira a quarta série aonde coincidentemente todas as crianças negras estavam enfileiradas num canto da sala, ao fundo(Quem define quem senta em que lugar é a professora), crianças negras reclamando(E pior, confirmei com meus próprios olhos) que não recebiam atenção da professora por causa da cor.
Portanto, é bastante tentador achar que prender meia dúzia de moleques no Orkut seja algo com resultados práticos na luta contra o racismo. Não é. A realidade é cruel e dura. O racismo no Brasil tem efeitos mais profundos que um sistema de redes sociais particularmente ruim. A própria luta contra o racismo no Brasil ganharia se as pessoas dispensassem a energia que gastam esbravejando contra o Orkut para eliminar o racismo nos locais aonde ele tende a ser mais cruel com suas vítimas: nas escolas e nas corporações de segurança pública.
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