07 janeiro, 2007

Milícias

A violência que assolou a cidade do Rio de Janeiro nos últimos dias fez com que o grande público tomasse conhecimento da existência de "milícias", que estariam disputando espaço com o tráfico de drogas - e tal disputa seria a origem da "onda de violência".

As “milícias” são grupos armados clandestinos, formados por policiais civis, militares, bombeiros e "gansos", com uma estratégia aparentemente eficaz de combate ao tráfico de drogas.

Escolhem uma área (entenda-se: favela), identificam os pontos de tráfico de drogas. A seguir, invadem a área, executam os traficantes e destroem os pontos de venda de drogas. Passam a arrecadar valores relativamente modestos de moradores e comerciantes. em troca da "segurança". Ao que consta, R$ 10,00 por casa e R$ 50,00 por comércio, mensalmente.

Uma vez controlada a área, passam a receber "comissões" de negócios ilegais, mas que a sociedade de tolera: casas de prostituição, jogo do bicho, máquinas caça-níquel, venda de produtos contrabandeados e falsificados. Um negócio extremamente lucrativo.

Então, qual o problema das “milícias”, já que eliminam o tráfico de drogas e instauram algum tipo de "ordem pública", onde o estado já falhou em todas as suas tentativas?

As “milícias” impõem a chamada "ordem" com base numa violência extremada. Matar alguns inocentes em meio a criminosos não importa. São, em sua maioria, pobres e negros. Ninguém reclamará por eles.

Depois, tais grupos, formados por agentes do estado, são pagos pela intimidação das comunidades. Passam a exercer uma influência de “senhores da guerra” nas áreas que dominam.

Além do que, onde haveria espaço para as organizações populares? Como se conceber uma manifestação popular ou uma greve, numa área controlada por uma “milícia”, que é financiada pelos comerciantes e donos de industrias?

E o processo eleitoral? Um candidato que não conte com a simpatia da “milícia” local, não poderia expor suas idéias, fazer campanha. E sobreviver.

É de se esperar que, em pouco tempo, a grande maioria dos vereadores, deputados e prefeitos, sejam ligados às “milícias”.

Assim chegará ao fim o estado democrático de direito.

Quer uma idéia do que seria uma nação dominada pelas “milícias”? Basta observar a Etiópia, o Iraque ou o Afeganistão.

Para resolver a questão da violência urbana, devemos, em primeiro lugar, compreender que ela é gerada pela própria forma como criamos e distribuímos nossas riquezas. Porque consideramos que “ser bem sucedido” é ter muita grana, poder e uma mulher gostosa.

Primeiro, mudar isso. Depois repensar o papel do Estado. De um outro Estado.

5 comentários:

Anônimo disse...

Texto esclarecedor.

Fábio Cassimiro disse...

Parabéns pelo texto
muito enxuto e, como já foi dito, exclarecedor.

Anônimo disse...

Assunto pertinente. Uma desestabilização das condições de segurança interna podem justificar, no atual contexto global, a intervenção de outros países.

Anônimo disse...

Do caralho esta postagem!

Anônimo disse...

Será que as elites tolerariam que o povo criasse suas próprias milícias?