Peço aos colaboradores e demais leitores do blog que tenham paciência com o meu desabafo. Escreverei sim (!) um texto longo, cansativo, pois acredito que servirá para outros poucos filhos legítimos da classe média alta desta macondo perdido que não quer compactuar com o modo tucano de governar. E, diante disso, é questionado freqüentemente por ser “fora do padrão”
Na década de 20, meu bisavô e minha bisavó chegavam ao Brasil, em Sorocaba, eram imigrantes espanhóis. Acreditem se quiser, meu bisavô era sanfoneiro, tocava em casamentos, festas de igreja e etc. Inclusive faleceu tocando. Ataque cardíaco. Sujeito extremamente conservador; quando soube que uma de suas filhas, já falecida, irmã de minha avó, militava no Partidão, não pensou duas vezes em expulsá-la de casa. Já minha bisavó era costureira, trabalhou na fábrica Santa Maria, ali na Vila Hortência. Local onde me criei até os 7 anos de idade.
Minha avó, por sua vez, brasileira de 1930 (ainda viva), também foi costureira na Santa Maria; quando se casou com meu avô, parou de trabalhar. Ele era pedreiro, e dos bons! Os dois estudaram até a quarta série. Com a separação de seus pais e a posterior morte de seu pai, meu avô começou a trabalhar, com 9 anos. E a fumar também, vindo a falecer em 1998, com problemas pulmonares. Meu pai e meu tio mais velho, trabalharam com ele como serventes de pedreiro. Era uma vida difícil, de muita pobreza. Das poucas vezes que conversei com meu pai sobre este período, sinto que é traumático a ele, disse que não passou fome pois ia na casa de amigos, mas que sua mãe chegou a ficar dois, três dias sem pôr nada na boca.
Depois, com muito esforço, meu pai se formou em Direito, na Fadi. Conversando com a Dra. Lucia Baldy, dias destes, disse lembrar bem de ter encontrado várias vezes meu pai sentado na sala da OAB, ainda na Justiça do Trabalho do Jardim Paulistano, meio encabulado, ouvindo a conversa dos advogados. Sem terno e gravata, sempre com uma calça jeans bem simples, desconfiou sobre quem seria aquele sujeito, e perguntou uma vez o que fazia lá. Ainda muito tímido, respondeu que ia lá para aprender com os mais experientes. Ela nunca se esqueceu disso. E eu também jamais me esquecerei.
Mas antes de começar a advogar, já casado, meu pai foi feirante. Como era dureza! Lembro-me das inúmeras vezes que tinha que dormir, ás 4h, 5h da manhã, na lona que cobria a banca, enquanto montavam-na, até dar 7 horas. Horário em que chegava à casa de meus avôs. Minha mãe era telefonista de uma multinacional, trabalhou também no Senac. Filha de açougueiro, teve que trabalhar desde cedo, perdeu a mãe aos 11 anos de idade. Casou-se com meu pai aos 17. Em virtude de graves crises financeiras, meu pai decidiu vender a banca e arriscar tudo na advocacia. Neste período, minha mãe praticamente levou a casa. Outro período bastante difícil.
Neste contexto, meu pai fundou, com mais pessoas, o Partido Socialista Brasileiro, e, na década de 80, filiou-se ao PT, onde está desde então.
Em dez anos, ele se tornou o maior advogado trabalhista de Sorocaba. Sempre advogando para trabalhador (até hoje), tendo inúmeras propostas, até mais vantajosas, para ir advogar para as grandes multinacionais. Minha mãe se formou em Direito em 1989, passando a advogar com ele. A partir disso, as coisas mudaram. Fui estudar num dos melhores colégios particulares da cidade. Convivi com filhos de grandes empresários, riquíssimos! Percebia, nitidamente, a diferença econômica existente, entretanto, convivia bem com a situação. Passei a freqüentar os ambientes elitistas sorocabanos. Festas, clubes, restaurantes...
Mas nunca esqueci minhas origens. Em 2002, entrei na Fadi, participei do C.A., filiei-me ao PT. Por convicção! Por influência dos pensamentos de meus pais.
Todos os meus amigos, ou a imensa maioria, eram tucanos, de direita. Seja na faculdade ou no período de colégio. Repreendiam-me por ser de esquerda. Diziam que eu estava me queimando, que ideologia não existe, que era pra eu acordar e etc!
Já esperava esta reação.
Quando cheguei ao PT, sofri o mesmo ataque, inverso, e mais discreto. Não aceitavam que um “filhinho de papai”, um burguês, pudesse participar deste partido. Um misto de inveja com confronto de realidades sociais drasticamente inversas. Percebia os comentários maldosos, envenenados, existentes até hoje. Ignora o nosso passado, a nossa história, como se houvesse um kit para ser de esquerda: não ter carro, não ser universitário, ganhar pouco, morar na periferia, sofrer bastante etc. Refletia ideologicamente: ódio de classes entre petistas?
Com o tempo este quadro se altera, alguns se aproximam, eliminam seus preconceitos, aprendem a gostar da gente. Mas não é fácil. Ser de esquerda na classe média, média alta, é arriscar-se! Significa perder amigos de infância, da juventude e, ao mesmo tempo, quase não ganhar outros bons no convívio com a esquerda.
Assim como eu, conheço inúmeros na mesmíssima situação.
Solidarizo-me!
Na década de 20, meu bisavô e minha bisavó chegavam ao Brasil, em Sorocaba, eram imigrantes espanhóis. Acreditem se quiser, meu bisavô era sanfoneiro, tocava em casamentos, festas de igreja e etc. Inclusive faleceu tocando. Ataque cardíaco. Sujeito extremamente conservador; quando soube que uma de suas filhas, já falecida, irmã de minha avó, militava no Partidão, não pensou duas vezes em expulsá-la de casa. Já minha bisavó era costureira, trabalhou na fábrica Santa Maria, ali na Vila Hortência. Local onde me criei até os 7 anos de idade.
Minha avó, por sua vez, brasileira de 1930 (ainda viva), também foi costureira na Santa Maria; quando se casou com meu avô, parou de trabalhar. Ele era pedreiro, e dos bons! Os dois estudaram até a quarta série. Com a separação de seus pais e a posterior morte de seu pai, meu avô começou a trabalhar, com 9 anos. E a fumar também, vindo a falecer em 1998, com problemas pulmonares. Meu pai e meu tio mais velho, trabalharam com ele como serventes de pedreiro. Era uma vida difícil, de muita pobreza. Das poucas vezes que conversei com meu pai sobre este período, sinto que é traumático a ele, disse que não passou fome pois ia na casa de amigos, mas que sua mãe chegou a ficar dois, três dias sem pôr nada na boca.
Depois, com muito esforço, meu pai se formou em Direito, na Fadi. Conversando com a Dra. Lucia Baldy, dias destes, disse lembrar bem de ter encontrado várias vezes meu pai sentado na sala da OAB, ainda na Justiça do Trabalho do Jardim Paulistano, meio encabulado, ouvindo a conversa dos advogados. Sem terno e gravata, sempre com uma calça jeans bem simples, desconfiou sobre quem seria aquele sujeito, e perguntou uma vez o que fazia lá. Ainda muito tímido, respondeu que ia lá para aprender com os mais experientes. Ela nunca se esqueceu disso. E eu também jamais me esquecerei.
Mas antes de começar a advogar, já casado, meu pai foi feirante. Como era dureza! Lembro-me das inúmeras vezes que tinha que dormir, ás 4h, 5h da manhã, na lona que cobria a banca, enquanto montavam-na, até dar 7 horas. Horário em que chegava à casa de meus avôs. Minha mãe era telefonista de uma multinacional, trabalhou também no Senac. Filha de açougueiro, teve que trabalhar desde cedo, perdeu a mãe aos 11 anos de idade. Casou-se com meu pai aos 17. Em virtude de graves crises financeiras, meu pai decidiu vender a banca e arriscar tudo na advocacia. Neste período, minha mãe praticamente levou a casa. Outro período bastante difícil.
Neste contexto, meu pai fundou, com mais pessoas, o Partido Socialista Brasileiro, e, na década de 80, filiou-se ao PT, onde está desde então.
Em dez anos, ele se tornou o maior advogado trabalhista de Sorocaba. Sempre advogando para trabalhador (até hoje), tendo inúmeras propostas, até mais vantajosas, para ir advogar para as grandes multinacionais. Minha mãe se formou em Direito em 1989, passando a advogar com ele. A partir disso, as coisas mudaram. Fui estudar num dos melhores colégios particulares da cidade. Convivi com filhos de grandes empresários, riquíssimos! Percebia, nitidamente, a diferença econômica existente, entretanto, convivia bem com a situação. Passei a freqüentar os ambientes elitistas sorocabanos. Festas, clubes, restaurantes...
Mas nunca esqueci minhas origens. Em 2002, entrei na Fadi, participei do C.A., filiei-me ao PT. Por convicção! Por influência dos pensamentos de meus pais.
Todos os meus amigos, ou a imensa maioria, eram tucanos, de direita. Seja na faculdade ou no período de colégio. Repreendiam-me por ser de esquerda. Diziam que eu estava me queimando, que ideologia não existe, que era pra eu acordar e etc!
Já esperava esta reação.
Quando cheguei ao PT, sofri o mesmo ataque, inverso, e mais discreto. Não aceitavam que um “filhinho de papai”, um burguês, pudesse participar deste partido. Um misto de inveja com confronto de realidades sociais drasticamente inversas. Percebia os comentários maldosos, envenenados, existentes até hoje. Ignora o nosso passado, a nossa história, como se houvesse um kit para ser de esquerda: não ter carro, não ser universitário, ganhar pouco, morar na periferia, sofrer bastante etc. Refletia ideologicamente: ódio de classes entre petistas?
Com o tempo este quadro se altera, alguns se aproximam, eliminam seus preconceitos, aprendem a gostar da gente. Mas não é fácil. Ser de esquerda na classe média, média alta, é arriscar-se! Significa perder amigos de infância, da juventude e, ao mesmo tempo, quase não ganhar outros bons no convívio com a esquerda.
Assim como eu, conheço inúmeros na mesmíssima situação.
Solidarizo-me!
8 comentários:
Otimo história de vida...
Ainda existe pessoas na nossa sociedade q colocam rotulos.Bom quando li seu comentário lembrei de uma história q a minha prof de teoria politica contou em sala.Que uma vez questionaram Engles por sua forma de se vestir bem, como ele poderia ser socialista ou comunista se vestia-se daquela forma e ele deu uma resposta brilhante, que ñ queriam dividir a pobreza e sim a riqueza.
Quando li a sua historia lembrei de Engles
Entendo seu drama...
a propósito...achei seu blog por acaso...e adorei, parabéns!
Olá Daniel
Infelizmente, as pessoas são avaliadas pelo carro, pelo bairro, pela profissão e pela conta bancária!
Caráter, Atitude, não são avaliados!
Mas não se incomode não! Seja íntegro,tenha atitude e caráter, isto não é caraterística de uma ou outra classe social.
Sobre amizades, as verdadeiras não se afastam por opções ideológicas diferentes! Poderá sim, não haver concordância, mas há de ter respeito pela diferença de opinião.
Desejar o bem comum, e participar do processo da busca deste bem comum, e uma destas vias é sem dúvida a política, nunca foi bem aceito acredito, por ambas partes, em paises em que a política sempre esteve em mãos de classes abastadas,criou uma desconfiança desgastante!
Força!
Abraços
Camarada Daniel:
A dicotomia "ser de esquerda e de elite" no teu caso deve ser substituída por "ser da elite da esquerda".
Ao falar em elite da esquerda não faço qualquer referência às "vanguardas" que pretendiam substituir o povo.
Falo das qualidades que um revolucionário deve ter: a indignação face às injustiças do mundo, intrasigência com seus ideiais e pureza de coração. Essas qualidades lhe são inerentes, camarada.
Não importa a origem, importa o destino. Engels, Marx, Che. Ou Daniel Lopes.
Força garoto, se inspire na garra de seus bisavós,na força e na luta de seu avô ( um Herói,com H maiúsculo),na ambição pelo trabalho, de seu pai e no equilibrio feminino de vida de sua mâe.
Você tem procedência garoto...é fruto dos bons.
Me emocionou, saudades do velho P.
A maioria da classe "merdia" nunca vai estar preocupada com o todo social,a mentalidade burguesa é assim:farinha pouca ,meu pirão primeiro!!!Estão preocupados que não podem trocar o carro,pagar a faculdade do filhinho,ter uma casa em condominio fechado...uma pobreza!São poucas as pessoas que lutam contra as desigualdades sociais.O caminho para essa discussão é propor uma nova direção à sociedade que passa pela a vida de cada um de nós,pela nossa participação na organização de movimentos solidários que defendam os direitos da comunidade.
É preciso saber que, além de lutar "pelos direitos dos trabalhadores", a classe "mérdia" deverá renunciar a parte do conforto que desfruta hoje em dia.
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