28 janeiro, 2007

Uma nova esquerda, sim. velhos erros, não!


A noticia da queda do nível de endividamento externo do Brasil recebida no último dia 26 de Janeiro deve ser comemorada, ainda mais porque a redução da dívida parece não ter sacrificado tanto o investimento social como esperávamos, pelo contrário, uma das principais críticas ao governo Lula é a de que ele gasta em demasia (leia-se gasto social), por outro lado, pôs a nu um velho mito da esquerda, o de que a dívida externa da América Latina e impagável sem sacrifício social e insolúvel sem moratória.

O pagamento da dívida é um tema muitíssimo delicado para nós da esquerda, visto que temos jogado todas as nossas cartas anti-neoliberais na satanização da dívida externa e do presidente Bush, como se o ataque ao capitalismo se resumisse ao combate ao binômio FMI-Bush. Mas, e agora que a divida brasileira reduziu tanto, podemos dizer que o capitalismo acabou? Se formos usar os argumentos da esquerda tradicional, visto que o governo Bush deve se encerrar em breve e, dado a queda do percentual da dívida, sim!

Fica evidente que a esquerda tem que repensar o seu papel na América Latina, devemos ter um novo programa para os países subdesenvolvidos que fuja desse modelo antiquado do trotskismo que banaliza os conceitos e transforma os agentes políticos em deuses ou demônios, ("...meu Deus não foi morto no México")

Costumamos reduzir nossa aversão ao imperialismo à figura do presidente norte-americano George W. Bush, nós o elegemos “demônio mor”, machista, racista e belicoso, e nos tornamos indiferentes as outras faces do imperialismo, sejam elas norte-americana ou européia, ignoramos o perigo representado por Putin na Rússia e dos conservadores que a cada dia avançam sobre a União Européia. A dupla Bush/FMI não é o que sintetiza o capitalismo e ao endemoniá-los ficamos vulneráveis as outras faces do capital.

Logo teremos eleições presidenciais nos EUA e possivelmente um democrata ganhe e entre os principais concorrentes estão: um reverendo negro e duas mulher (uma delas negra). Se um deles ganharo que faremos? Personificamos o mal na figura de um homem republicano, machista e racista. Fosse uma mulher negra, eles seriam menos imperialistas?

Um dia desses numa assembléia do Centro Acadêmico de História da USP, discutia-se a truculência do diretor da faculdade ao impor a mudança da cantina e da xérox para o prédio vizinho (das “Ciências Sociais”), um estudante do CA e membro da dissidência petista que criou o Psol chegou a dizer que aquilo se tratava de um avanço do capitalismo internacional”, uma das maiores pérolas que eu já consegui coletar em discursos.

No Brasil, os grupos de esquerda que representam esta tendência pela banalização elegeram Lula o “inimigo número um” dos trabalhadores e dessa forma puderam se aliar às forças completamente retrogradas para se contrapor ao petista, “(...) é como se eles tivessem ido tanto para a esquerda que acabaram chegando na direita” (Reinaldo Domingues), e isto não é radicalismo é ignorância mesmo, da mesma forma, eles deram as costas para Fidel Castro, Evo Morales e Hugo Chaves.

Em ano eleitoral o governo Lula divulgou que estava quitando parte importante da dívida externa, o principal discurso da “esquerda sisuda” caia por terra, e eles ficavam sem rumo, sem ter um demônio a quem apelar. Apesar de não entender ainda o papel de Lula no cenário ideológico da esquerda, a polarização política se aglutinou em torno de PT e PSDB. Isto é um fato, agora nós precisamos de um novo projeto de país e de esquerda.

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