O brutal assassinato do menino João Hélio Fernandes nos revoltou. Mais que isso. Quero apenas meia hora sozinho com os animais que o arrastaram por sete quilômetros. Só meia hora.
Apesar da indignação geral - e de minha indignação particular, que é insuportável - vamos separar o joio do trigo. Melhor dizendo, separar a retórica demagógica da vontade real de mudar as coisas.
Assim que souberam do crime monstruoso, deputados e senadores colocaram na ordem do dia "pacotes contra a violência". O alcaide de São Paulo, Gilberto Kassab, que outro dia quase bateu num manifestante, passou a liderar uma campanha contra a volência.
Gran Circo Brasil.
Acredito que a idéia de que um jovem passa a ser responsável por seus atos no dia em que completa 18 anos, é anacrônica. Devemos mudar isso. Cuidadosamente. Pensando nas alternativas possíveis, envolvendo no debate psicólogos, educadores, pessoas que trabalham com a recuperação de adolescentes infratores. As vítimas dos "de menor". E toda a sociedade, de forma geral. Muita calma nessa hora.
Reduzir a maioridade penal e aumentar as penas previstas, pode satisfazer nosso desejo por vingança. Mas não resolverá o problema da violência.
Ou alguém acredita que um bandido deixará de cometer um crime porque a pena prevista passou de vinte anos de prisão para vinte e cinco anos? Que tipo de raciocínio é esse?
"20 anos até que dava pra encarar, mas 25 ficou pesado. Vou abandonar o crime".
O lance não é a pena. É a certeza da punição. Para isso, mais do que mudar a legislação, é preciso ampliar - e muito - a polícia investigativa, melhorar os salarios e condições de trabalho dos policiais, investir - muita grana - em novos recursos técnicos e em informatização. Disso nossas Excelências não se lembraram. Gastar dói.
Afinal de contas, como disse o sociólogo Emir Sader:
"A sociedade tem que olhar para esses crimes como quem olha para o espelho, e se perguntar: que sociedade é essa que produz esse tipo de meninos? E não como quem olha pela janela, como algo alheio. "
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4 comentários:
Eu acredito que deveria haver um programa eficaz para tratar os menores infratores de forma que possam recuperar-se, e não manter a formação de violência que trouxeram da vida.A reforma em todo sistema desde a polícia até a revisão das leis e das formas de aplicá-las é muito profunda e exige participação popular, mas isso não basta, devemos mudar toda uma sociedade que ensina seus filhos a levar vantagem prejudicando as pessoas e a não dar importância a educação entre outras coisas.Um abraço.
Faço coro com você Reinaldo, e também concordo com o comentário da Carol. Após assisitirmos atônitos ao noticiário da noite sobre a morte do menino que foi arrastado, passamos a ver uma novela estúpida e demagógica como é páginas da vida e esperamos "ansiosos" pelo BBB, ah sim, o grande programa da família brasileira, onde o "levar vantagem", o "sacanear", "manipular", "fraudar", "mentir", "trairar" são elevados à categoria de "grande jogada e inteligência pra vencer". Tudo vale, afinal "são um milhão de reais que estão em jogo". Ah. Vale também arrastr um menino pelas ruas do rio, afinal praqueles caras era um "carro" que estava em jogo, então "vale-tudo". Hoje vale tudo na na vida pra ferrar o outro, seja ele quem for, pra se dar bem, ainda que não se saiba o que é se dar bem, mas no Brasil parece que se dar bem é ferrar com alguém: "Você já ferrou alguém hoje? Ainda não? Putz que decepção, como voc~e é um cara por fora!" Essa é a mensagem que todos nós estamos repassando adiante no Brasil.
Pra não alongar o comentário anterior, quero acrescentar que quando vc Reinaldo diz que o que não importa o tamanho da pena mas sim como ela é aplicada, você atingiu o ponto crucial da questão criminal no Brasil. Sempre fui e SOU defensor dos direitos humanos, mas no Brasil cumprir pena é piada. Há sim celas com condições desumanas, mas meu: Banho de Sol, Proibição de "solitárias", cigarro, celular, Tv de plasma, VISITA ÍNTIMA (essa é a maior piada: outro dia vi uma mulher exibir numa reportagem de TV, com orgulho, seu filho no colo e dizer: "esse aqui é filho da cadeia, hehe", enquanto aguardava sua entrada pra visitar o "marido" na cadeia), debocham das beneces exageradas que dão aos presos e veja como tratam os próprios filhos: "filho da cadeia", há um certo orgulho e predestinação nas palavras dessa mulher, o que ela pretende que seu filho seja? É piada, enquanto isso mal durmo sem saber o que será do futuro de minha filha num país onde moralmente é tonto quem é honesto! Bom, além de todas as beneces para cumprir prisão no Brasil, caso a situação fique insuportável, é só tentar uma fuga ou fazer uma rebelião e quebrar tudo (o STJ já disse: é um direito do preso), que nosso dinheiro que deixamos nos impostos, cobre os prejuízios. É isso, um pouco de "disciplina" não faria mal a ninguém, afinal, minha filha tem 10 anos de idade e passa horas sentada numa sala de aula, porque esses marmanjos não podem passar um dias trabalhando dentro da cadeia (ah, desculpe feri seus sentimentos humanitários ao exigir que os presos trabalhem?).
Rodson, além das condições de cumprimento da pena, a grande questão é que a maioria dos criminosos simplesmente NÃO CUMPRE QUALQUER PENA. Em cada dez homicídios, nove permanecem sem condenação, ou seja, ninguém é punido. Já que não vou cumprir qualquer pena, que importa se a pena "abstrata" será de 20 anos, 30 anos ou perpétua.
A Carol tem toda razão quando diz que é preciso mudar todo o sistema de segurança pública, começando pela polícia e pelo poder judiciário, ambos com estruturas anacrônicas e ineficazes. Falta coragem para propor isso.
E também alterar a forma como são tratados os adolescentes infratores. Se os presídios são as "faculdades do crime", a FEBEM é um "colégio técnico do crime".
Mais uma vez: não se trata apenas de punir, não é uma questão de vingança. A grande questão é educar, formar e recuperar. E as instituições não estão preparadas.
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