Acordei que sonhava

Texto abaixo de Lauren Archilla (foto)

Ciência do lixo

Me corrijam! Por favor, me corrijam. De acordo com meus míseros conhecimentos em jornalismo, um artigo é uma opinião sobre determinado assunto. E, para publicar sua opínião em alguma ferramenta de comunicação, acredito que ela deve acrescentar algo à humanidade. Por exemplo, eu poderia escrever um artigo dizendo que bolo de coco é mais gostoso que bolo de abacaxi. Falaria das minhas experiências com ambas as receitas, as sensações que cada doce me provoca, e provaria por A mais B que eu acho bolo de coco o melhor de todos.

Se tivesse escrito algo desse tipo, aonde publicaria? No meu diário, no meu bloco de anotações, num blog pessoal... simplesmente porque não interessa a ninguém!

http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/beleza_de_boneca.html

Eis aqui um artigo publicado em uma revista dita "séria", e que, verdade seja dita, muitas vezes publica coisas realmente interessantes.

Infelizmente "Beleza de Boneca" foge à regra, e, pensando bem, não é inútil: serve para cristalizar preconceitos e idéias equivocadas que já estão em vigor na sociedade. Ela diz que a Barbie é o ideal de beleza da humanidade, e que há provas científicas para isso. Diz que bebês foram submetidos a exposições de fotos de uma mulher considerada "bonita" e uma "comum", e os pequenos já demonstraram preferência pela "bonita". Sendo estes livres da contaminação da mídia, a Barbie representaria a beleza na sua mais pura essência, e o resto é balela.

Este é o tipo de pesquisa científica que eu chamo de anti-serviço social. Não bastasse a mídia nos bombardear com esses estereótipos, a japonesa de quadris estreitos termina de ler e conclui que provavelmente terá dificuldades no parto e por isso é menos atraente. O negro de nariz largo têm sua imagem associada ao macaco, e a idosa, do alto de sua sabedoria e experiência, entende que são grandes as chances de ser trocada por uma moça, pois depois do período fértil a mulher deixa de ser bonita.

A pesquisa aconteceu nos EUA, e não poderia ter sido realizada em outro país. Os mestres da superficialidade mais uma vez nos presentearam com lixo científico. Outro dia havia lido outro artigo na mesma revista, explicando o porquê de nos sentirmos atraídos por mulheres com características similares à de Angelina Jolie: olhos e lábios exagerados. É nessas horas que eu me pergunto: que tipo de profissionais da comunicação trabalham nessa revista? Será que alguma vez eles já se questionaram sobre a função social do jornalista/escritor/pesquisador? Será que são robôs que simplesmente reproduzem o que lêem por aí? Que tipo de formação têm? Pensar e refletir é tão difícil assim?

Como futura psicóloga, cidadã, apaixonada pela diversidade e, acima de tudo, humanista, eu me preocupo.

Em tempo: meus olhos puxados e meu rosto redondo de índia continuam sendo lindos, goste você ou não.

Pastelões ao lixo - gostei muito deste texto postado no blog da Lauren, o tema ciência/sociedade sempre chamou minha atenção, assim como o tema mídia/poder, após le-lo fiz a ultima postagem (Blogs sorocabanos), coloquei minha opinião sobre os veículos tradicionais de mídia e, agora, publico o texto na íntegra – ele dá um exemplo bem claro dos interesses da nossa mídia.

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Lauren Archilla, é estudante de Psicologia e escreve para o blog Acordei que sonhava