"Por que que a droga da TV – do jornal e da revista – não aproveitou a desgraça com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, a bola de fogo, o arrebatamento dos instantes, a fatalidade, a impotência humana sobre o tempo e o mistério, para tratar da efemeridade da vida?"
"Outro dia entrei num sebo aqui em São Paulo, cujo dono me conhece. Ele (um rapaz de uns vinte e cinco anos) veio surgindo do fundo da loja, emergindo de entre pilhas e mais pilhas de livros velhos amarelados, enrugados, organizados meio sem ordem, e foi dizendo: "olha, hoje entrou um livro seu! (e citou o nome). Aliás, ontem entrou outro em que o prefácio é seu! E tem outro aqui (retirando o exemplar da prateleira e me mostrando) em que a revisão é sua!" Abri uma gargalhada diante do jovem de cara boa, bonita, risonha, metade da minha idade: "quer dizer que já virei mesmo objeto de museu, não é não?!". Ele respondeu que aquilo, na verdade, era sinal de consagração. "Consagração, não. Esquecimento", corrigi. "Tudo o que eu quero – esquecimento", acrescentei."
A mim, afinal, não me interessa mais a publicação de livros. Hoje eu só escrevo para mim mesma – e não há maior sensação de liberdade do que esta. Esta sensação de estar fora do sistema, de não ser refém nem do “mercado” nem da mídia podre. E eu só escrevo para ter contato com o outro tempo, o que a TV não mostra. Há outro tempo que a TV não mostra (é preciso, com urgência, matar a TV, a imprensa escrita etc.).
"O que virou a tragédia do avião da TAM senão um showzinho para o “Fantástico” da Globo? É preciso acabar com a Globo, com o jornal “O Globo”, com a “Folha de S. Paulo”, o “Estado de S. Paulo”, a Rede Bandeirantes e outros lixos como eles se apresentam hoje."
Marilene Felinto - texto integral
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