15 agosto, 2007

Tropas, tropeiros e tropeirismo: uma revisão necessária

Nas décadas de 60 e 70 tivemos grandes historiadores ligados a antiga tradição historiográfica como Carlos Borges Schmidt, Alfredo Ellis Junior e o mais incrível de todos Aluisio de Almeida, este fez uma pesquisa de grande fôlego fazendo uso dos jornais da época, dos arquivos da cidade, da cúria, até hoje as series de números mais completas, referentes ao volume de tropas que passaram por Sorocaba são de Almeida.
Após estes pesquisadores ligados a tradição elitista quase nada de novo apareceu sobre as tropas e mesmo sobre Sorocaba, os últimos trabalhos tem sido no máximo fragmentos do que poderia ter sido uma pesquisa histórica.
Os trabalhos mais representativos que tomei conhecimento foram realizados na USP e na Unesp, destaco o de Antonio Carlos de Almeida Prado Bacellar, “Viver e sobreviver numa vila colonial” e “Sorocaba no Império” de Cássia Maria Badinni, além de trabalhos de mestrado sob orientação da professora Raquel Gleizer (USP).
Bacellar faz uso da demografia histórica, que usa métodos estatíscos para análise da história, esta tendência, em minha opinião exacerba dos fatores numéricos e tendem a deixar de lado fontes e fatores políticos e culturais, no entanto Bacellar observa que as feiras de muares não tinham uma relevância tão grande na vida social da cidade como apregoa a historiografia, sua sazonalidade, fazia com que os moradores mantivessem outras formas de subsistência, a grande atividade econômico era a pequena agricultura, o produto de maior vulto era o suíno, além disso observa ausência de concentração de riqueza nos períodos de maior relevo da atividade tropeira,o escravo, não era o escravo tradicional de fazenda, raramente alguém possuía mais de seis escravos.

Sobre o tropeirismo, existem questões muito difíceis, como por exemplo o fato de o movimento ter conhecido o seu período de auge durante a decadência da mineração, no início do século XIX , ou seja, coloca em xeque a noção amplamente divulgada de que ele tenha existido para alimentar de mulas as minas de ouro, fato que colocaria Sorocaba numa situação de relevância num momento histórico importante para o país

De fato a atividade tropeira se iniciou para fornecer mulas às minas, no entando, o conteúdo de mulas que passava por Sorocaba no século XVIII e no início do XIX era incrívelmente menor que a quantidade que passou atravessar o rio Sorocaba após a década de 1840 ele era muito pequeno, conhecendo um aumento quase repentino que durou até o terceiro quartel daquele século.
A historiografia costuma relacionar a decadência das tropas com a chegada da estrada de ferro Sorocabana, o que não pode ser verdade, pois a Sorocabana faliu num primeiro momento e muito devagar ela foi ganhando importância, provavelmente, a estrada de ferro tenha sido responsável sim, mas não a Sorocabana, seriam as diversas estradas que ligaram o Vale do Paraíba, Minas Gerais e o interior do Rio de Janeiro ao litoral.

Há com certeza muito o que se pesquisar a respeito da história de Sorocaba, neste sentido nós ainda nem engatinhamos, dado enorme volume de informações a serem pesquisadas, formação de bancos de dados específicos para Sorocaba, que remetam aos Arquivos do Estado, Arquivo Ultramarino (Portugal) e a Cúria. Esta tarefa só será cumprida com a formação de um órgão fomentador de pesquisas, seja ele público ou privado - este é um dos fatos que me fazem ter a espectativa de um dia ver trocado o poder municipal.

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