26 setembro, 2007

PCO, UJR e a crise de identidade da esquerda

O PT passa por uma crise muito grande de identidade.

Na USP existem três militantes da UJR (União da Juventude Revolucionária), se não me engano são ligados ao PCO (Partido da Causa Operária), toda semana sou abordado por um deles que tenta me vender seu jornal por três reais, semana passada a manchete era alguma novidade sobre “o levante operário dos controladores de vôo”, nem quis entrar no mérito da discussão; esta semana trazia na capa algo contra a CPMF, perguntei ao rapaz o que ele tinha contra a famigerada e ele respondeu-me que era contra qualquer tipo de imposto por ser uma forma de sustentar “este Estado corrupto” e ainda mais porque fora criada pelo FHC e mantida pelo Lula. Ele falou em espólio da classe média, etc. Apontei a ele o nome do jornal “A Classe Operária” e perguntei o porquê de eles não estarem discutindo questões como miséria, inclusão digital e alfabetização dos trabalhadores ou outra qualquer, mais relevantes para a classe operária, ele me chamou de petista.

Lembrei de quando o FHC criou a CPMF disfarçada de mecanismo para coibir a lavagem de dinheiro. Lembro-me de como se posicionavam as forças sociais naquele momento: a burguesia com seus sonhos de sociedade cristalizados em FHC não faria nada que desgastasse o seu governo; os trabalhadores eram pouco atingidos, mas participavam do senso comum de que imposto é sempre ruim; o posicionamento crítico mesmo coube à classe média que desde o início “bateu duro”.

O grande curinga naquele caso foi o PT, que estando em lua de mel com a classe média, abraçou cegamente a luta contra a CPMF como se ela fosse a grande bandeira dos trabalhadores em geral, pegaram uma parte da sociedade como se ela fosse o todo. O PT deu importância demasiada para classe dos “formadores de opinião”, a maioria dos economistas do PT que gritaram contra a CPMF no passado hoje a estão defendendo no governo.

Não acredito que o PT tenha traído a classe média em seu governo, mas o casamento se desfez e é fato que ela ficou ressentida, mas também não sei se um governo de qualquer matiz seria capaz de satisfazê-la, o comportamento dela nunca é coerente.

A classe média sempre está no limiar entre a riqueza e a pobreza. Mais do que os pobres, ela almeja ser rica, fantasia uma vida de luxúria e teme a pobreza muito mais que os trabalhadores, sua existência é inconstante. Sua crítica é sempre a mais contundente, mas o seu radicalismo tem um limite bem definido, o pequeno-burguês não sonha com um mundo de igualdade, seu objetivo maior é ser rico e, não existe socialismo, ou melhor, não existe sociedade onde todos são ricos – acreditar na classe média como base para a mudança foi um erro do PT, mas estar ao seu lado garantiu a formação de uma coalizão de forças que levou Lula ao Planalto. As lideranças do PT estão confusas e não sabem qual rumo devem tomar agora, a ruptura esta acontecendo porque o governo não conseguiu manter seu apoio nela, mesmo que queiramos acreditar é que isso tenha acontecido porque o governo se tornou mais popular (que em parte é verdade), o fato é que perdemos o apoio da classe média, e já que estamos desquitados a única solução é radicalizar.

O PT esta naquela fase de meia-idade do pequeno-burguês, rejeitado pela classe média mas ainda apaixonado por ela, não sabe se casa com a empregada ou se dá pro capital. Ou ele avança e caminha ao socialismo ou retrocede e vira mais um partido de aluguel.

Um comentário:

Anônimo disse...

"creditar na classe média como base para a mudança foi um erro do PT"

Mas desde quando o PT acreditou na classe media como base da mudança?

Papo de maluco