19 setembro, 2007

Os Bandeirantes eram judeus (Anita Novinsky)

Texto de Mario Cesar carvalho publicado Folha de São Paulo - Cotidiano - 5/9/2004) - envido a nós por Carlos Cavalheiro.

"Os historiadores nunca primaram pelo equilíbrio ao retratar Antônio Raposo Tavares (1598-1658), um dos mais mitológicos bandeirantes. Ou era guindado ao céu como o "bandeirante magno, vulto formidável", segundo a descrição de Affonso Taunay, ou era jogado no inferno como assassino, herege e matador de padres.

A historiadora Anita Novinsky, professora de pós-graduação na USP, reuniu documentos encontrados em Portugal segundo os quais Raposo Tavares teria razões religiosas para queimar igrejas: sua madrasta, Maria da Costa, foi presa pela Inquisição em 1618 sob a acusação de "judaísmo" e só saiu do cárcere seis anos depois."

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"Há razões ideológicas na fúria dos bandeirantes contra a igreja. Ela representava a força que tinha destruído suas vidas e confiscado seus bens em Portugal", diz Novinsky, autora de oito livros sobre a Inquisição. Raposo Tavares matou jesuítas porque eles eram comissários da Inquisição na América, segundo a historiadora.

Uma outra história

Segundo a nova perspectiva, Raposo Tavares e bandeirantes que atacavam igrejas podem ser vistos como "subversivos", desafiadores da hegemonia católica, na visão de Novinsky. Entre os bandeirantes, eram cristãos novos Raposo Tavares, Fernão Dias Paes e Brás Leme. Baltazar Fernandes, fundador de Sorocaba, matou com um tiro na cabeça o padre Diogo de Alfaro, que tinha sido enviado pela Inquisição para investigar os paulistas.

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Os ataques das bandeiras às reduções, áreas em que os jesuítas agrupavam os índios para catequizá-los, ocorreram na primeira metade do século XVII. O mais célebre dos ataques foi contra as reduções na região de Guairá, hoje território paraguaio, em 1628. Raposo Tavares teria saído de São Paulo com 900 brancos e 3.000 índios.
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Por outro lado...

Os conflitos entre a Igreja, o Estado português e os colonos europeus na América sobre a escravidão indígena são constantes durante todo o período colonial, desde quando Colombo desembarcou na América e começou a usar os índios como mão-de-obra forçada, houveram opiniões favoráveis e contra os métodos realizados (dentro e fora da igreja), discutiu-se se os índios possuíam mesmo alma, se a escravidão não era uma forma de catequização, etc.

Os jesuítas também não representavam diretamente a opinião da Igreja, nem o Estado os apoiou sempre, eles foram uma das faces do poder religioso na época e durante um certo período um dos braços do poder colonial. Em 1750 o Estado português resolveu expulsa-los de seus domínios, mas isso não quis dizer que o Estado tenha se tornado anti-clerical (como o raciocínio acima pode levar a crer), pelo contrario, o Estado se apoiou em outros grupos religiosos.

Os defensores desta tese (a do ódio religioso) tentam desqualificar os argumentos econômicos em detrimentos dos religiosos (ideais), os argumentos religiosos ideais são realmente muito importantes mas estavam intimamente interligados aos interesses político e comercial. Não dá para lutar contra o fato de que, na colônia portuguesa (hoje Brasil), os jesuítas, usando-se da mão de obra escrava, tenham montado um império (econômico-religioso) dentro do Império português independente de seu Estado, na região amazônica eles tinham até mesmo monopólio sobre o comércio; na região sul a catequização forçada dos índios se opunha ao aprisionamento do gentio por parte dos bandeirantes e ambos rivalizavam.

Nos séculos XVII e XVIII, no contexto das disputas fronteiriças entre a colônia portuguesa e a espanhola, os jesuítas ergueram fortalezas e impediam a penetração dos portugueses nas regiões sob litígio, o que resultou em conflitos armados.

Boa parte das expedições bandeirantes dirigidas contra as reduções jesuíticas do sul partiram de Sorocaba, mas isto não tem relação com o fato de os bandeirantes serem cristãos-novos, pode até ter ajudado mas o fundamento era outro. E Baltazar Fernandes também não era judeu, era mestiço de índio com europeu, talvez um europeu cristão-novo.

Um comentário:

TAZA disse...

Quando li pela primeira vez a repotagem de Anita Novinski na Foplha de São Paulo, fiquei totalmente tomado de clareza e interesse nessa história. História com His, e aliás, H maiúsculo.
Fantástico. Levei um mes para achar Anita em São Paulo e aliás descobrir que sua filha Sonia mora do lado da minha casa, há 200 metros.
Arrebatador? Não arremetedor!!! Formidável, contemplar a verdade. jesus diz que a gente fica feliz quando se defronta copm a verdade. Namastê. Om
TAZA