04 outubro, 2007

Escravidão na Indústria - Sorocaba

"Antonio Francisco, idade estimada de 28 anos, refinador e fundidor; Salvador dos Santos, 25 anos presumíveis, moldador; José de Santa Anna, 12 anos, aprendiz de ferreiro. Os três integram uma relação de 66 escravos, com seus respectivos ofícios, que trabalhavam na Fábrica de Ferro São João de Ipanema, em Sorocaba (SP), no ano de 1821."(Documentos cobrem o período de 1765 a 1895)

Esta listagem integra a farta documentação sobre a Fábrica Ipanema (1765-1895) guardada no Arquivo do Estado de São Paulo (AESP) e que sustenta a pesquisa de doutorado sobre escravidão e indústria do historiador Mário Danieli Neto. A tese, orientada pelo professor José Jobson de Andrade Arruda, foi defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp.

“O estudo propõe uma reflexão sobre a suposta incompatibilidade do escravo frente ao trabalho na indústria. Parte da historiografia costuma mostrar o escravo como incapaz de se adaptar a atividades que exigiam destreza técnica e conhecimento de máquinas, além de não se habituar ao ritmo de produção industrial”, afirma o autor. (Fonte: Jornal da Unicamp)

Bom, eu vejo nessa pesquisa a possibilidade de desfazer muitos mitos sobre a escravidão.

Mesmo assim, ainda acredito que há sim uma incompatibilidade do trabalho escravo com a indústria capitalista, o que não pode ser considerado preconceito, já que a indústria moderna necessita de grande disciplina sem coerção, além de maior especialização, que é muito mais fácil de ser conseguido com o trabalho livre, independentemente da raça.


Questionei o historiador sorocabano Carlos Cavalhheiro a respeito da incompatibilidade da indústria moderna com o trabalho escravo. Cavalheiro é um sensível pesquisador da historia negra em Sorocaba, habituado com a nossa farta documentação tem a seguinte opinião:

Carlos Cavalheiro: Certamente, porém, mesmo nessa indústria moderna (nas fábricas) a mão-de-obra escrava foi aproveitada. Flávio Versiani trata desse assunto e diz, inclusive, que o escravo só não foi aproveitado nos setores onde ele não trazia experiência anterior (como os têxteis, por exemplo - cuja opção era pela mulheres que traziam certo conhecimento por conta das atividades domésticas). Mas mesmo assim houve alguns casos esparsos. Recolhi uma notícia de um escravo que fora alugado para trabalhar dentro da Fábrica Fonseca (N.S. da Ponte) e que teve o auxílio de seus companheiros (trabalhadores livres) para conseguir o dinheiro necessário à sua alforria. Narrei esse fato no meu livro "Scenas da Escravidão...".

Um comentário:

Anônimo disse...

Marx, dizia que o escravo trata a máquina com muito "amore". Uma ironia, pois Marx, dizia, que o escravo trata os instrumento de trabalho, com muito ódio, sendo este o motivo da existência de instrumentos grosseiros e de difícil destruição, no período da escravatura clássica.

A existência de alguns escravos durante a transição do trabalho escravo ao trabalho capitalista, é normal. E foi rapidamente eliminado, pelo desenvolvimento da indústria capitalista.

Mas como comprova as ações do Ministério do Trabalho, ele ainda persiste, como forma de braço auxiliar na produção capitalista, mesmo nos dias de hoje. mas em setores periféricos da produção capitalista.