O Jornal Bom Dia de ontem, sete de Outubro, trouxe uma matéria sobre o jovem sorocabano e seu envolvimento com a política junto de algumas "conclusões" tiradas por uma pesquisa do Ipeso, encomenda pala prefeitura:
Os dados [Ipeso] revelam que a maioria do jovem sorocabano é tradicionalista. Ele considera importantes os valores passados ou vivenciados pelos pais ou até mesmo pelos avós. Por exemplo: dizem que a religião é muito importante na vida deles e são contra a legalização da maconha e do aborto. Alguns resultados chamam ainda mais a atenção: não vão deixar seus filhos fazerem tatuagem, usar piercing ou brinco antes de completar 18 anos. (Jornal Bom Dia)
Bom, assim como os jovens operários sorocabanos (anarquistas, comunistas e integralistas) do inicio do século XX espelhavam-se culturalmente em seus pais, o jovem sorocabano de hoje pode também considerar importantes os valores de seus antepassados, sem que isso os transforme em reacionários, por isso há que se relativizar o termo tradicionalista.
Não sei de qual juventude a matéria do Bom Dia esta tratando, parece-me impossível falar em jovem como grupo social homogêneo, sua existencia enquanto categoria social é uma novidade do século XX, até então ele era simplesmente um pré adulto.
Sugiro a leitura do artigo Revolução e Juventude do professor Lincoln Secco (História-USP) a respeito do papel da juventude na história.
Não é possível chamar a juventude simplesmente de liberal nem mesmo tradicionalistas, esses matizes se configuram conforme a classe social e o processo histórico em que estão inseridos.
O jovem de classe média ao apoiar a legalização da maconha poderá ser considerado mais liberal que o jovem de periferia contrário? Se é que assim o consideram.
Pois então, não sei se a pesquisa Ipeso separou socialmente o jovem sorocabano, aparentemente não e ela pode trazer diferentes resultados se realizada majoritariamente no Campolim ou na periferia.
Esse é o erro que o movimento estudantil também costuma cometer, o de achar que a juventude é necessariamente portadora do novo, ela trará a novidade desde que ligada a uma classe social em ascensão, como fizeram a juventude 68 e a classe média européia, hoje a classe média é reacionária. E a juventude?
A solução para esse problema pode ter sido sugerida pelo historiador inglês E. Hobsbawm ao escrever sobre a sua juventude na Alemanha da década de 20: a maioria dos lideres políticos eram jovens e o movimento político era essencialmente radical, havia duas possibilidades políticas abertas aos jovens alemães, aderir ao nazismo ou ao comunismo.(citado por Secco em aula)
Assim,
Os anos 60 descobriram novos jovens. Membros das classes médias com educação superior (em curso), eles passaram a se considerar também uma vanguarda política e cultural. Nunca o tinham sido.
Hoje, embora o distanciamento histórico ainda não permita concluir com segurança, pode-se dizer que a juventude "meia oito" conseguiu um feito único: projetou sua hegemonia "geracional" no tempo. E o fez, negando-se a envelhecer. Ao faze-lo, ela cometeu o ato mais egoísta de libertação: liberou-se a si própria ao mesmo tempo em que escravizou para sempre todas as gerações futuras. Doravante, estas não poderão mais romper tabus, pois os velhos jovens de 68 aparentemente já romperam todos.A juventude atual deveria procurar suas próprias armas. Mas têm uma tarefa inédita. Precisa combater num mundo onde todos se disfarçam de jovens. (Lincon Secco)
Por outro lado, se o jovem não pode mais ser tratado automaticamente como portador do novo, sua energia, suas expectativas para com o futuro, sua insegurança com o presente, o relativo descompromisso com a realidade objetiva e seu fascínio pelo subjetivo o transforma num grupo que não pode ser mais tratado simplesmeste como grupo etário. Isso devido a sua facilidade em radicalizar, no entanto, existe o radical solidário, o do hip-hop, o ambientalista, o "cultural", individualista, o de esquerda e logicamente aquele que espanca uma doméstica porque a confundiu com uma prostituta.
Onde estará o jovem portador do novo hoje?
Gostaria de perguntar isto ao professor Lincoln.
Seria na classe média, na burguesia ou nas periferias?
Um comentário:
Vi a pesquisa. Muito bem feita.
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