por Cynara Menezes
Já passava da uma da manhã de quinta-feira 29 quando o celular tocou no quarto do hotel Las Americas, em Caracas. Atendi. Era o ministro das Comunicações, William Lara, com uma ótima notícia: o presidente Hugo Chávez havia aceito minha solicitação de entrevista e iria falar comigo no avião às 15h daquele dia, enquanto se deslocava para o sul do país. Oba, pensei. Após uma semana na capital venezuelana, tinha muito o que perguntar ao comandante.
Eu e Lara combinamos que um carro do ministério passaria para me apanhar no hotel à uma da tarde. Mandei a matéria que preparei sobre o país para a CartaCapital e fiquei à espera. Enquanto isso, lá fora, os manifestantes contra a reforma ocupavam as ruas de Caracas. O trânsito na cidade, que já é péssimo, estava infernal.
Às duas, Lara me ligou perguntando se eu me importava de que uma moto fosse me apanhar, porque era impossível chegar a tempo de carro. “Por mim, tudo bem”, eu disse. Em cinco minutos o motoqueiro chegou. Subi na garupa e rapidamente me arrependi: o sujeito pilotava como louco pelas ruas tomadas de carros e manifestantes, costurando entre os veículos, como os motoboys de São Paulo. Pensei: “Putz, vou morrer na Venezuela”. Descabelada, sem capacete, os olhos lacrimejando, o nariz escorrendo. E o motoqueiro a toda pastilla.
Enfim, chegando na estrada que dá para o aeroporto, um carro faz sinal para que paremos. Era Lara com uma péssima notícia: em virtude de um terremoto na Bolívia, o comandante cancelou o evento que faria no sul e, por conseguinte, a entrevista. O ministro me pediu desculpas várias vezes, e eu tranqüilamente respondi:
- Otra vez será.
Naquele momento senti que Chávez perderia. Obviamente, com as pesquisas apontando para um empate (pelo resultado final, a diferença a favor do No foi mínima), não me arrisquei a cravar a vitória da oposição na reportagem que está na revista. Mas algo me dizia que o presidente recusara a entrevista na última hora porque possuía elementos para acreditar na derrota. A cara preocupada de Lara também dava sinais de que as coisas não iam bem para o governo.
E por que não foram bem? Na minha modesta opinião, porque Chávez, em vez de ganhar, perdeu aliados. Não falo só do general Raúl Baduel, falo do povo venezuelano. Vi que as pessoas estavam com medo, que não queriam ir fundo em um socialismo que não sabem direito o que é e perder o pouco que têm. E que conseguiram, justiça seja feita, por causa das políticas engendradas pelo próprio comandante. Em suma, faltou-lhe habilidade não só para conquistar mais adeptos para sua revolução como para manter os que já possuía. Da forma como agiu, em vez de reduzir a oposição, a alimentou. Os esquálidos estão gordinhos agora.
Não resta dúvida que Hugo Chávez é a maior novidade política do planeta. Sem ele e Evo Morales, na Bolívia, o mundo ficaria muito igual, por um lado, e, por outro, mais desigual. Mas ele ainda precisa entender a lição que ficou dos regimes caídos na União Soviética e Alemanha, e mesmo na terra de Fidel Castro: socialismo não tem nada a ver com falta de democracia. Escutar, sobretudo respeitar, os descontentes faz parte do processo de unir um país em torno de um projeto.
Já passava da uma da manhã de quinta-feira 29 quando o celular tocou no quarto do hotel Las Americas, em Caracas. Atendi. Era o ministro das Comunicações, William Lara, com uma ótima notícia: o presidente Hugo Chávez havia aceito minha solicitação de entrevista e iria falar comigo no avião às 15h daquele dia, enquanto se deslocava para o sul do país. Oba, pensei. Após uma semana na capital venezuelana, tinha muito o que perguntar ao comandante.
Eu e Lara combinamos que um carro do ministério passaria para me apanhar no hotel à uma da tarde. Mandei a matéria que preparei sobre o país para a CartaCapital e fiquei à espera. Enquanto isso, lá fora, os manifestantes contra a reforma ocupavam as ruas de Caracas. O trânsito na cidade, que já é péssimo, estava infernal.
Às duas, Lara me ligou perguntando se eu me importava de que uma moto fosse me apanhar, porque era impossível chegar a tempo de carro. “Por mim, tudo bem”, eu disse. Em cinco minutos o motoqueiro chegou. Subi na garupa e rapidamente me arrependi: o sujeito pilotava como louco pelas ruas tomadas de carros e manifestantes, costurando entre os veículos, como os motoboys de São Paulo. Pensei: “Putz, vou morrer na Venezuela”. Descabelada, sem capacete, os olhos lacrimejando, o nariz escorrendo. E o motoqueiro a toda pastilla.
Enfim, chegando na estrada que dá para o aeroporto, um carro faz sinal para que paremos. Era Lara com uma péssima notícia: em virtude de um terremoto na Bolívia, o comandante cancelou o evento que faria no sul e, por conseguinte, a entrevista. O ministro me pediu desculpas várias vezes, e eu tranqüilamente respondi:
- Otra vez será.
Naquele momento senti que Chávez perderia. Obviamente, com as pesquisas apontando para um empate (pelo resultado final, a diferença a favor do No foi mínima), não me arrisquei a cravar a vitória da oposição na reportagem que está na revista. Mas algo me dizia que o presidente recusara a entrevista na última hora porque possuía elementos para acreditar na derrota. A cara preocupada de Lara também dava sinais de que as coisas não iam bem para o governo.
E por que não foram bem? Na minha modesta opinião, porque Chávez, em vez de ganhar, perdeu aliados. Não falo só do general Raúl Baduel, falo do povo venezuelano. Vi que as pessoas estavam com medo, que não queriam ir fundo em um socialismo que não sabem direito o que é e perder o pouco que têm. E que conseguiram, justiça seja feita, por causa das políticas engendradas pelo próprio comandante. Em suma, faltou-lhe habilidade não só para conquistar mais adeptos para sua revolução como para manter os que já possuía. Da forma como agiu, em vez de reduzir a oposição, a alimentou. Os esquálidos estão gordinhos agora.
Não resta dúvida que Hugo Chávez é a maior novidade política do planeta. Sem ele e Evo Morales, na Bolívia, o mundo ficaria muito igual, por um lado, e, por outro, mais desigual. Mas ele ainda precisa entender a lição que ficou dos regimes caídos na União Soviética e Alemanha, e mesmo na terra de Fidel Castro: socialismo não tem nada a ver com falta de democracia. Escutar, sobretudo respeitar, os descontentes faz parte do processo de unir um país em torno de um projeto.
Desprezá-los, desrespeitá-los, só faz incitar à revolta.
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