Ricardo Oliveira da Silva, de 19 anos, é uma dessas figuras fantásticas e improváveis que o Brasil produz de forma recorrente. Filho de agricultores muito pobres do interior do Ceará, portador de doença neurológica que o impede de se locomover, Ricardo foi alfabetizado pela mãe, dona Francisca, e recebe a assistência de professores da escola mais próxima há apenas três anos. Muitas vezes, o pai, seu Joaquim, teve de levá-lo à escola num carrinho de mão improvisado para que ele pudesse fazer as provas.
Mas, superando o aparentemente insuperável, Ricardo surpreendeu: já ganhou duas medalhas de ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas, concorrendo com 17 milhões de alunos, além de uma medalha de ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Astronomia e Astrologia.
Condecorado pelo presidente Lula no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde foi ovacionado pelo público, Ricardo não conseguiu falar. 'Fiquei nervoso', disse. Na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, na qual também foi homenageado, Ricardo, um garoto simples e tímido, foi igualmente econômico nas palavras. Indagado se precisava de alguma coisa, disse que não era pessoa de ficar pedindo.
Contudo Ricardo, muito inteligente, sabe bem o que quer. Embora diga não precisar de nada, afirma que, se querem dar-lhe presentes, que tragam livros. Ele quer conhecimentos e informações. Sabe que é isso que faz a diferença na vida das pessoas e das sociedades.
Pois bem, Ricardo ganhou dois presentes: um desktop e um notebook. Ótimo, o acesso à informática é importante. Mas há um grave problema: Ricardo, que mora num lugar onde nem sequer há sinal de telefonia, não tem internet. Deram-lhe as asas, mas ele não tem o céu de conhecimentos da internet para voar. Por isso ele sonha com o acesso à rede mundial de computadores. 'Acho', diz ele, 'que com a internet vai ser mais fácil estudar e me comunicar com os professores.'
Assim como Ricardo, há milhões de jovens brasileiros que sonham com as informações e as oportunidades que a internet disponibiliza. São cidadãos hoje submetidos à iniqüidade do apartheid digital e que enfrentarão grandes dificuldades para estudar, comunicar-se e adquirir os conhecimentos necessários para se tornarem produtivos e bem-sucedidos no futuro. De fato, enquanto entre os 10% mais pobres da população brasileira apenas 0,6% têm acesso a computador com internet, entre os 10% mais ricos esse índice é de 56,3%. O pior, porém, é que esse apartheid se reproduz nas escolas: no ensino fundamental, apenas 17,2% dos alunos das escolas públicas usam a internet, ao passo que nas escolas particulares esse número sobe para 74,3%.
Entre esses milhões de jovens brasileiros atualmente excluídos dos benefícios da era digital, há, com certeza, muitos 'Ricardos' esperando pelas oportunidades que a rede mundial de computadores fornece para poderem desenvolver todo o seu potencial. O Brasil precisa dar um salto de qualidade em sua educação e colocar esses jovens no século 21, em condições de competirem no mercado de trabalho por um futuro melhor. Se nada for feito, esse imenso potencial humano, estratégico para a competitividade do País, será criminosamente desperdiçado.
Por isso, o governo já começou a implementar o programa que vai colocar internet de banda larga nas escolas públicas urbanas do Brasil. Mediante um acordo com as empresas de telecomunicações que vinha defendendo desde o início do ano passado, qual seja, o de trocar a instalação de arcaicos 'postos de serviço' com orelhões e fax por modernas linhas de internet de banda larga, cerca 55 mil escolas e 83% dos alunos da rede pública estarão conectados à rede mundial, no prazo de três anos. Esse programa, financiado com recursos do Ministério da Educação (MEC), representa passo importante para modernizar a educação e contribuirá para melhorar o sofrível resultado de nossos alunos nos testes internacionais de desempenho.
Mas não basta. Não basta para o Ricardo e não basta para o Brasil. Ricardo, que mora na zona rural do interior do Ceará, não será beneficiado por esse programa. E, assim como ele, milhões de estudantes carentes do interior de todo o Brasil continuarão a ser vítimas do apartheid digital.
Tenho projeto, aprovado por unanimidade no Senado e atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, que prevê o descontingenciamento de 75% dos recursos do Fust, fundo criado justamente para universalizar as telecomunicações, com o objetivo de viabilizar a implantação de banda larga em todas as 137 mil escolas públicas, urbanas e rurais, e promover a inclusão digital de 47 milhões de alunos. Ninguém ficaria de fora e ainda haveria dinheiro suficiente também para treinar professores e desenvolver conteúdo adequado ao ensino pela rede digital. Tenho certeza que o deputado Marcelo Ortiz (PV-SP), presidente da comissão especial da Câmara que trata do projeto, e o deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE), relator da mesma comissão, conscientes da importância dessa iniciativa e parlamentares competentes, farão todo o possível para aprová-lo com celeridade.
Assim, creio que o melhor presente que poderíamos dar ao Ricardo e a outros milhões como ele, que sonham com o século 21, seria a aprovação desse projeto. Ricardo, embora não tenha o hábito de pedir, agradeceria. O País, entretanto, agradeceria ainda mais. Afinal, quando a banda larga, a banda que toca a música do conhecimento e da competitividade, tocar para todos, inclusive para o Ricardo, o Brasil ganhará também uma olimpíada: a olimpíada dos países prósperos e justos.
Mas, superando o aparentemente insuperável, Ricardo surpreendeu: já ganhou duas medalhas de ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas, concorrendo com 17 milhões de alunos, além de uma medalha de ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Astronomia e Astrologia.
Condecorado pelo presidente Lula no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde foi ovacionado pelo público, Ricardo não conseguiu falar. 'Fiquei nervoso', disse. Na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, na qual também foi homenageado, Ricardo, um garoto simples e tímido, foi igualmente econômico nas palavras. Indagado se precisava de alguma coisa, disse que não era pessoa de ficar pedindo.
Contudo Ricardo, muito inteligente, sabe bem o que quer. Embora diga não precisar de nada, afirma que, se querem dar-lhe presentes, que tragam livros. Ele quer conhecimentos e informações. Sabe que é isso que faz a diferença na vida das pessoas e das sociedades.
Pois bem, Ricardo ganhou dois presentes: um desktop e um notebook. Ótimo, o acesso à informática é importante. Mas há um grave problema: Ricardo, que mora num lugar onde nem sequer há sinal de telefonia, não tem internet. Deram-lhe as asas, mas ele não tem o céu de conhecimentos da internet para voar. Por isso ele sonha com o acesso à rede mundial de computadores. 'Acho', diz ele, 'que com a internet vai ser mais fácil estudar e me comunicar com os professores.'
Assim como Ricardo, há milhões de jovens brasileiros que sonham com as informações e as oportunidades que a internet disponibiliza. São cidadãos hoje submetidos à iniqüidade do apartheid digital e que enfrentarão grandes dificuldades para estudar, comunicar-se e adquirir os conhecimentos necessários para se tornarem produtivos e bem-sucedidos no futuro. De fato, enquanto entre os 10% mais pobres da população brasileira apenas 0,6% têm acesso a computador com internet, entre os 10% mais ricos esse índice é de 56,3%. O pior, porém, é que esse apartheid se reproduz nas escolas: no ensino fundamental, apenas 17,2% dos alunos das escolas públicas usam a internet, ao passo que nas escolas particulares esse número sobe para 74,3%.
Entre esses milhões de jovens brasileiros atualmente excluídos dos benefícios da era digital, há, com certeza, muitos 'Ricardos' esperando pelas oportunidades que a rede mundial de computadores fornece para poderem desenvolver todo o seu potencial. O Brasil precisa dar um salto de qualidade em sua educação e colocar esses jovens no século 21, em condições de competirem no mercado de trabalho por um futuro melhor. Se nada for feito, esse imenso potencial humano, estratégico para a competitividade do País, será criminosamente desperdiçado.
Por isso, o governo já começou a implementar o programa que vai colocar internet de banda larga nas escolas públicas urbanas do Brasil. Mediante um acordo com as empresas de telecomunicações que vinha defendendo desde o início do ano passado, qual seja, o de trocar a instalação de arcaicos 'postos de serviço' com orelhões e fax por modernas linhas de internet de banda larga, cerca 55 mil escolas e 83% dos alunos da rede pública estarão conectados à rede mundial, no prazo de três anos. Esse programa, financiado com recursos do Ministério da Educação (MEC), representa passo importante para modernizar a educação e contribuirá para melhorar o sofrível resultado de nossos alunos nos testes internacionais de desempenho.
Mas não basta. Não basta para o Ricardo e não basta para o Brasil. Ricardo, que mora na zona rural do interior do Ceará, não será beneficiado por esse programa. E, assim como ele, milhões de estudantes carentes do interior de todo o Brasil continuarão a ser vítimas do apartheid digital.
Tenho projeto, aprovado por unanimidade no Senado e atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, que prevê o descontingenciamento de 75% dos recursos do Fust, fundo criado justamente para universalizar as telecomunicações, com o objetivo de viabilizar a implantação de banda larga em todas as 137 mil escolas públicas, urbanas e rurais, e promover a inclusão digital de 47 milhões de alunos. Ninguém ficaria de fora e ainda haveria dinheiro suficiente também para treinar professores e desenvolver conteúdo adequado ao ensino pela rede digital. Tenho certeza que o deputado Marcelo Ortiz (PV-SP), presidente da comissão especial da Câmara que trata do projeto, e o deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE), relator da mesma comissão, conscientes da importância dessa iniciativa e parlamentares competentes, farão todo o possível para aprová-lo com celeridade.
Assim, creio que o melhor presente que poderíamos dar ao Ricardo e a outros milhões como ele, que sonham com o século 21, seria a aprovação desse projeto. Ricardo, embora não tenha o hábito de pedir, agradeceria. O País, entretanto, agradeceria ainda mais. Afinal, quando a banda larga, a banda que toca a música do conhecimento e da competitividade, tocar para todos, inclusive para o Ricardo, o Brasil ganhará também uma olimpíada: a olimpíada dos países prósperos e justos.
Aloizio Mercadante, economista e professor licenciado da PUC-SP e da Unicamp, é senador da República pelo PT-SP.
Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo, edição de 27/05/2008.
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