09 julho, 2008

O 9 de Julho deveria se chamar dia do Café-com-leite


O vulgo popular afirma que o Brasil é um país de tradição democrática, ao contrário do resto da America Latina. Isso não é bem verdade, aqui no Brasil períodos de democracia foram exceções. De 1946 a 1964 e de 1988 até hoje, ou seja, pouco mais de um terço do século.

Além disso, se o Império brasileiro nos causa um certo desconforto, principalmente quando vemos que no resto da América surgiram várias repúblicas após a independencia, alguns historiadores afirmam que a República oligárquica (1889-1930) representou um retrocesso aos avanços liberais do segundo império.

Nesse período a política brasileira foi marcada pela disputas entre as oligarquias estaduais, com a elite cafeicultora paulista como hegemônica, ela usou o comando do Estado para defender de maneira abusiva seus interesses individuais. Os cafeicultores paulistas aliaram-se a oligarquia mineira produtora de leite, pois Minas Gerais era maior pólo eleitoral do país e, mantendo o apoio mineiro mantinham o controle do país, esta política ficou conhecida como a do “café-com-leite”. Dessa maneira São Paulo pode manter uma política econômica de valorização do café, muito prejudicial ao país.
A política de valorização do café consistia na compra do café pelo Estado e a renuncia ao imposto de exportação. O café era estocado e assim retirado do mercado, mantendo os preços em alta. O Brasil era o maior produtor mundial de café e São Paulo, de longe, o maior produtor brasileiro. São Paulo se comportava como um semi-Estado Nacional dentro do Estado Nacional brasileiro. Com a estocagem do café o “Estado paulista” inicialmente auferiu grande lucro, vendendo café estocado, com a alta lucratividade o imposto de exportação foi eliminado, entretanto, o lucro não precisava ser repassado em parte para a união como acontecia com o imposto e dessa maneira somente São Paulo se beneficiava da exportação. Esta política de estocagem nem sempre dava certo e muitas vezes o preço não subia e para não derrubá-los ainda mais, deixavam perder toda a safra nos armazéns, nesse momento São Paulo se valia da presidência da republica e os cofres do Estado Nacional entravam para cobrir o prejuízo.
Nessa época também emergiu a política dos coronéis e capitães, mandatários locais que adquiriam sob compra os cargos de comando da Guarda Nacional. Esta entidade, contrariamente ao exercito que se organizava nacionalmente, tinha uma hierarquia restrita a um estado e na prática funcionava como uma guarda particular dos fazendeiros. Ao contrario do que muitos pensam os títulos de coronel e capitão não foram herdados da colônia ele é um produto da republica velha e funcionava como um titulo de nobreza, mas nobreza republicana.
A política de valorização do café já era contestada em 1915 e com queda das bolsas de 1929 ela se tronou insustentável, as vésperas da grande queda um economista sorocabano se notabilizou estadualmente pela defesa que fez da política de estocagem, era Isaltino Guanabara Rodrigues da Costa, ele fez carreira como administradora de uma fabulosa rede de armazéns de café.
Após 1929 a hegemonia de São Paulo ficou fragilizada e o golpe de militar de Getulio Vargas (1930) é o resultado disso. Vargas se contrapôs a política da republica velha enquanto defensor dos interesses do capital nacional emergente. De imediato Getulio mandou queimar o café para não solta-lo no mercado (em queda), mas posteriormente a valorização do café foi extinta e São Paulo perdeu os privilégios que desfrutava.

A “revolução de 32” contra Getúlio Vargas foi último suspiro da republica dos coronéis, a agonia de um modo arcaico de fazer política do café-com-leite. Uma política que coadunou tudo o que existia de mais pernicioso no Império Brasileiro e que transbordou para o século XX. Além disso o termo revolução também é usado equivocadamente ao se referir a 32, em todos os seus sentidos: progresso, transformação, mudança, reviravolta. O que houve foi uma revolta efêmera que buscava o regresso ao status quo anterior, não causando abalos à estrutura social.

A construção da identidade paulista ignora que o coronelismo tenha sido a sua realidade no início do século XX, ignoram que a manutenção desta entidade seja um dos objetivo da revolta de 32. Aliás deixam a pecha de coronéis apenas para os nordestinos.

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