29 junho, 2009

Tudo aos amigos


No caminho com Maiakovski

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa
casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da
garganta.
E já não podemos dizer nada.

(de Eduardo Alves da Costa)



O poema acima citado descreve de forma precisa os motivos pelos quais não se deve tolerar agressões, injustiças e a distorção de valores que nos são tão caros em nossas vidas.

Menciono referido texto com o propósito de retomar a discussão em torno do desmoronamento dos valores éticos e morais da administração Vitor Lippi.

Referido processo, aliás, tem sido debatido constantemente por aqueles adeptos da boa política, seja lá qual for sua orientação ideológica, mas que esteja cercada de bons propósitos.

Os que militam (ou militaram) na esquerda mais tradicional costumam dizer que é impossível transformar um país pelas vias democráticas, mesmo com o melhor governo, os melhores programas e a melhor das intenções, porque o Estado não passaria de um “aparelho da burguesia”.

Segundo tal conceito, os três poderes teriam sido construídos com o firme propósito de se manter um instrumento que desse a uma minoria condições de controlar a maioria.

Essa minoria, seria a mesma que durante séculos se dedicou a tratar seres humanos, seus iguais, como sendo propriedade, quando defendiam a escravidão.

Bem, o grande desafio do Partido dos Trabalhadores era justamente o de assumir um Estado moldado por interesses de uma pequena elite e governá-lo para todos, com um claro viés de combate as desigualdades e injustiças sócias. E tudo isso pela via democrática, já que foi essa a opção de milhares de brasileiros que em 1980 sonharam e ousaram construir a nova política no país.

Creio que o sucesso do governo Lula, com o êxito de suas políticas sociais e a amplitude de seus programas de distribuição de renda apontem para um futuro não tão distante, em que seremos capazes de construir um novo estado democrático.

No entanto, é lamentável constatar que o PSDB não tem contribuído em absolutamente nada nesse sentido. Vejamos o (mal) exemplo de Sorocaba.

A candidatura à reeleição de Vitor Lippi foi coordenada por um grupo de empresários, que inclusive mantém negócios com a Prefeitura de Sorocaba. Algo que se não se pode classificar como ilegal, mas que cabe no rol daqueles tidos como imorais.

Nos primeiros seis meses desse confuso segundo mandato, Vitor Lippi conseguiu apresentar diversos péssimos exemplos de tolerância com pequenos gestos de imoralidade no trato com a coisa pública. Aceitou que funcionários do primeiro escalão do seu governo se beneficiassem do cargo para a aquisição de automóveis com descontos especiais, se enrolou com os até hoje mal explicados “negócios da China”, admitiu ter isentado de impostos empresas que contribuíram com sua campanha eleitoral. Enfim, escolheu andar no fio da navalha que separa os interesses públicos dos privados, da probidade, da improbidade.

Eis que, com o bolo pronto, resolve acrescentar a cereja que faltava. Indica o ex-prefeito de Itapetininga, impedido pela Justiça de se candidatar nas últimas eleições por conta de processos que responde na esfera criminal, para ser seu Secretário de Habitação.

Não me resta dúvidas, Lippi perdeu completamente o rumo de seu governo. A prefeitura de Sorocaba retrocedeu algumas décadas e voltou a ser um “aparelho” de poucos e para poucos. Algo provinciano que tem como resultado a estagnação de toda a cidade. Justamente em um momento delicado, de grave crise econômica, que exige ousadia, seriedade e competência em todas as esferas do Poder Público.

E como na política tucana se admite pesos e medidas distintas aos amigos, Lippi tem defendido seu novo secretário dizendo que nada ainda se resta absolutamente provado. Que em política esse tipo de processo é comum e que ele mesmo responde a alguns.

Verdade ou não, essa tolerância só se dá mesmo em relação aos seus parceiros. É só lembrar do seu comportamento e de suas frases na época em que o presidente Lula não tinha a aprovação que acumula hoje, na época, Lippi chegou a sugerir cadeia ao presidente.

Ao que parece, os anos têm tornado o prefeito sorocabano muito mais tolerante a certos assuntos.

Paulo Henrique Soranz Presidente do PT-Sorocaba

Um comentário:

danilo disse...

Infelizmente, a proteção de seus pares é uma prática abominável que independe de religião (padres pedófilos), raça (Souza, brasileiro negro, defendendo Maxí López, branco argentino, no caso de racismo) ou crença política (silêncio do bahcaroço sobre Sarney, crise do Senado e o patético papel de Lula sobre o assunto).