19 março, 2010

Entrevista com Sérgio Amadeu sobre software livre


Qual o benefício para uma criança, na escola, aprender a mexer num computador usando um software livre? Mais tarde, não será requisito para emprego que ela saiba usar softwares do modelo proprietário?

Ensinar com software livre significa formar uma pessoa dando opções. Ela passa a aprender a funcionalidade, ela não fica restrita a um tipo único de interface ou design. Ela não é adestrada, ela aprende. Eu não conheço um caso de uma pessoa que conhece Linux e não consegue emprego. Eu conheço o contrário. Eu sou sociólogo e vejo técnicos de Windows aqui e descubro que conheço mais de informática do que eles. Isso é ridículo. A verdade é o contrário: o modelo proprietário retira do usuário a autonomia do uso da máquina, a inteligência; o livre faz o contrário. Se a Microsoft muda a versão do Windows as pessoas que vem do modelo proprietário já não sabem como usar, porque foram adestradas. Você pode tanto dar condições ao jovem aprender hoje que software é mídia e não é simplesmente algo que tem que ser feito por um técnico, que se pode discutir funcionalidade e que ele precisa saber como funcionam os protocolos da Internet. Não tem a mínima condição confundir informatização com ampliação de um poder de monopólio que está perdendo força nos EUA, que tem que comprar o Yahoo para sobreviver, porque ele não tem a mínima condição de ficar de pé, porque é um modelo que não se amplia mais na rede. Eu estou informatizando meu país e vou fazer a sociedade ficar refém dessa plataforma de monopólio? Levar a sociedade ao mundo da informática é levá-la a ser prisioneira de um modelo de negócio de uma empresa de software norte-americana? Com muito mais facilidade hoje eu instalo o Ubuntu, aliás, muito mais fácil do que o Windows Vista, um fracasso total. Se você disser que o melhor navegador é da Internet Explorer, me desculpe, o melhor é o Firefox, que, por ser aberto, tem mais de 3.000 plugins de coisas fantásticas que eu posso conectar a ele. Tudo produzido por pessoas diferentes, do mundo todo, o cara na Nova Zelândia, na Índia, porque tem gente criando e disponibilizando para os usuários do Firefox. Já a Microsoft tem que criar tudo dentro dos seus funcionários.


Sérgio Amadeu da Silveira é sociólogo e doutor em Ciência Política pela USP. Implantou os Telecentros Comunitários em São Paulo durante a gestão Marta Suplicy, presidiu o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), entre 2003 e 2005; e coordenou o Comitê de Implementação de Software Livre (CISL) no Governo Federal. Desde então dá aulas na pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero e é consultor do Instituto Campus Party Brasil. É autor de Software Livre: a luta pela liberdade do conhecimento e Exclusão Digital: A miséria na Era da Informação

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