12 fevereiro, 2006

Pó&Cia

XXXIII

Remorso Póstumo

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Em teu negro e marmóreo mausoléu, e não
Tiveres por alcova e refúgio senão
Uma cova deserta e uma tumba chuvosa;

Quando a pedra, a oprimir tua carne medrosa
E teus flancos sensuais de lânguida exaustão,
Impedir de querer e arfar teu coração,
E teus pés de correr por trilha aventurosa,

O túmulo, no qual em sonho me abandono
- Porque o túmulo sempre há de entender o poeta -,
Nessas noites sem fim em que nos foge o sono,

Dir-te-á: “De que valeu, cortesã indiscreta,
Ao pé dos mortos ignorar seu lamento?”
- E o verme te roerá como um remorso lento

Charles Baudelaire
(1821-1957)

Nenhum comentário: