20 março, 2006

Acabou em pizza?

por José Dirceu

"A cena é patética. Sem Serra, a cúpula tucana comemorou, mas não parecia a escolha do seu candidato à Presidência da República. Sem discussão programática, sem debates democráticos, consultas ou prévias, o quase ex-governador de São Paulo foi ungido, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o AntiLula.

A escolha de Alckmin é a vitória dos liberais de direita no ninho tucano, com total apoio e cobertura da cúpula pefelista, uma derrota fragorosa para a chamada social democracia tucana. Assim ela foi recebida pelo chamado mercado, e são os serristas que estão espalhando essa pequena verdade, que só não vê quem não quer.

Ficou decidido que tudo continuará como antes, ou seja, continua a hegemonia liberal paulista-fernandista no PSDB, o resto é discurso de campanha. O programa, que já tem seus contornos definidos, dará continuidade aos oito anos de FHC.

De acordo com matéria publicada, no dia 15, no site Carta Maior, uma das principais idéias que orienta o grupo de especialistas, que se vem reunindo com Alckmin para discutir seu programa de governo, é o ''choque de gestão'' com o objetivo de pôr em prática os princípios da eficiência e do combate ao desperdício do Estado. Diz a matéria: ''Reforma trabalhista radical, com corte de encargos e direitos; privatização de todos os bancos estaduais; fusão dos ministérios da Agricultura e da Reforma Agrária; adoção da política de déficit nominal zero; menor peso ao Mercosul e retomada das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca)''. Essas são algumas das idéias defendidas no esboço de um eventual programa de governo.

Causa espanto à sociedade ouvir, agora, da boca de um grão-tucano, ungido candidato, que ''dará um banho de ética no Brasil''. Se, de fato, se preocupa com a ética, seria mais eficiente e mais prático começar pelas atuais CPMIs e investigar as denúncias que atingem a oposição e envolvem o senador Antero de Barros, Furnas, o ex-governador Eduardo Azeredo, os fundos de pensão no governo FHC. Ou, ainda, permitir a instalação das CPIs que estão nas gavetas das Assembléias Legislativas de MG, PA, BA e São Paulo. Ou a ética, defendida pelos tucanos, só vale para o governo e a situação?

..."

Jornal do Brasil - 17 de março de 2006

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