"Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta,ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo." (Florestan Fernandes)
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Estou cursando História na USP (segundo semestre), um sonho que tive desde os 16 anos, quando comecei a militar no movimento estudantil, cursei Fatec, trabalhei na área mecânica, mas sempre achei que deveria fazer História, entrei com vinte e três anos na universidade e ansiedades guardadas por sete anos: o mundo intelectual, a vida acadêmica, o pensamento de esquerda... Como eu sonhei com tudo isso. Tudo ilusão! Menos de um ano e o encanto se quebrou, assombrado, eu chego a conclusão que o mundo acadêmico é uma grande casa de chá, onde algumas pessoas bem posicionadas na sociedade, quase nunca de origem trabalhadora, se reúnem para contemplar a beleza das teorias sociais e render flores à magnífica sabedoria de seus pares.
A universidade esta presente fisicamente em um mundo cheio de esperança por ela, que aguarda a sua intervenção, no entanto, ela se mantém completamente à parte da sociedade, na academia só uma pequena parcela dos professores espera que seus alunos lecionem algum dia, a expectativa é de que nos tornemos pesquisadores para entrar no seleto grupo dos homens que pensam a humanidade (mas só pensam). Estudar a história com o interesse de mudar a sociedade se tornou um sacrilégio, diz-se que a interferência ideológica e política é prejudicial ao saber, que deve estar acima das paixões deformadoras do conhecimento, mas conhecimento pelo conhecimento, nada de aplicação prática, como se esta abordagem alienada não estivesse imbuída de interesses de classe.
Marx conclamou os operários do mundo para que unissem em defesa de uma sociedade que promovesse melhores condições de vida e trabalho, como intelectual dedicou sua vida a pesquisar o funcionamento do capitalismo na intenção de contribuir para a sua superação. Hoje, o Capital continua sendo a pedra fundamental da chamada “escola uspiana de História”, no entanto, nosso pensamento marxista separou a teoria da prática, da mesma forma, a História se mantém distante de qualquer intervenção prática na sociedade. Certa aula, um professor disse que se considerava um marxista apenas do ponto de vista acadêmico (devo supor que seja politicamente liberal), quando foi publicado o manifesto em repúdio ao Alckmin quase nenhum professor da FFLCH o assinou, não é a toa que um dos expoentes do “marxismo uspiano” tenha sido FHC, eleito naquela expectativa de ter um homem inteligentíssimo na presidência, que ao subir a rampa do Palácio do Planalto simplesmente olhou para traz e disse: “esqueçam o que eu escrevi!” – teoria e prática.
Na academia existe um completo preconceito pelo pensamento que não nasce na universidade, um dia desses num debate sobre Celso Furtado e nacional-desenvolvimentismo, um professor rendeu elogios a este grande intelectual, no entanto, ridicularizou Lula e Ciro Gomes, por defenderem, ainda hoje, o desenvolvimento de áreas economicamente atrasadas, “tese tão ultrapassada”. Ora! Ultrapassada só se for na universidade, por que na agenda política do pais ela continua muito atual, isto, sem esquecer que, Celso Furtado morreu a apenas dois anos intelectual e politicamente ativo defendendo esta tese.
Mas eu não perdi minhas esperanças, afinal de contas não foi sempre assim, isso faz parte de um processo de mudança que se intensificou nos últimos vinte anos, temos um belo quadro de grandes pensadores barsileiros: Furtado, Caio Prado Jr., Nelson W. Sodré, Florestan Fernandes, que tiveram uma vida intelectual riquíssima e intervieram na sociedade. O mundo da voltas – espero que a universidade também.
A universidade esta presente fisicamente em um mundo cheio de esperança por ela, que aguarda a sua intervenção, no entanto, ela se mantém completamente à parte da sociedade, na academia só uma pequena parcela dos professores espera que seus alunos lecionem algum dia, a expectativa é de que nos tornemos pesquisadores para entrar no seleto grupo dos homens que pensam a humanidade (mas só pensam). Estudar a história com o interesse de mudar a sociedade se tornou um sacrilégio, diz-se que a interferência ideológica e política é prejudicial ao saber, que deve estar acima das paixões deformadoras do conhecimento, mas conhecimento pelo conhecimento, nada de aplicação prática, como se esta abordagem alienada não estivesse imbuída de interesses de classe.
Marx conclamou os operários do mundo para que unissem em defesa de uma sociedade que promovesse melhores condições de vida e trabalho, como intelectual dedicou sua vida a pesquisar o funcionamento do capitalismo na intenção de contribuir para a sua superação. Hoje, o Capital continua sendo a pedra fundamental da chamada “escola uspiana de História”, no entanto, nosso pensamento marxista separou a teoria da prática, da mesma forma, a História se mantém distante de qualquer intervenção prática na sociedade. Certa aula, um professor disse que se considerava um marxista apenas do ponto de vista acadêmico (devo supor que seja politicamente liberal), quando foi publicado o manifesto em repúdio ao Alckmin quase nenhum professor da FFLCH o assinou, não é a toa que um dos expoentes do “marxismo uspiano” tenha sido FHC, eleito naquela expectativa de ter um homem inteligentíssimo na presidência, que ao subir a rampa do Palácio do Planalto simplesmente olhou para traz e disse: “esqueçam o que eu escrevi!” – teoria e prática.
Na academia existe um completo preconceito pelo pensamento que não nasce na universidade, um dia desses num debate sobre Celso Furtado e nacional-desenvolvimentismo, um professor rendeu elogios a este grande intelectual, no entanto, ridicularizou Lula e Ciro Gomes, por defenderem, ainda hoje, o desenvolvimento de áreas economicamente atrasadas, “tese tão ultrapassada”. Ora! Ultrapassada só se for na universidade, por que na agenda política do pais ela continua muito atual, isto, sem esquecer que, Celso Furtado morreu a apenas dois anos intelectual e politicamente ativo defendendo esta tese.
Mas eu não perdi minhas esperanças, afinal de contas não foi sempre assim, isso faz parte de um processo de mudança que se intensificou nos últimos vinte anos, temos um belo quadro de grandes pensadores barsileiros: Furtado, Caio Prado Jr., Nelson W. Sodré, Florestan Fernandes, que tiveram uma vida intelectual riquíssima e intervieram na sociedade. O mundo da voltas – espero que a universidade também.
9 comentários:
Excelente seu texto, Fábio. De fato, muitos professores pregam um discurso, mas agem contra ele. E isso não é só na USP. Aqui no Paraná, na minha universidade por exemplo, muitos de meus professores também instigavam nós, alunos, a refletirmos sobre nossa mísera condição e trabalharmos em prol de uma mudança. Entretando, esses mesmos professores não eram capazes de fazer isso, porque estavam satisfeitos com seus "belos" salários mostrando que, não adianta lutar, porque as coisas nunca vão mudar! Eram marxistas do ponto de vista acadêmico, porque na sua prática cotidiana já haviam se rendido ao domínio do capital... Ao menos, com suas teorias, eles foram capazes de me ensinar a ver o mundo com outros olhos!
Fábio, seu texto é tocante. Sua sinceridade surpreende e mostra, para nós, que a "intelectualidade" se afastou da sociedade.
É, realmente, uma sociedade de chá das senhoras católicas. Não faz qualquer sentido.
Acredito que alguns autores de ficção, como Saramago, Gabriel Garcia Marques ou Rubem Fonseca, deram uma contribuição maior a compreensão de nossa realidade do que toda uma geração de mestres uspianos.
Fábio, enquanto as 'academias' lutarem pelo poder estarão sempre distantse da sociedade. Elas, com discurso que formam para a sociedade através da pesquisa, formam mesmo é para o mercado. O mesmo que levam os mestres a 'brigarem' internamente, numa constante quebra de braços, a fim de obterem mais poder e conseguirem se firmar cada vez mais economicamente. Ou seja, para o próprio mercado, esse ciclo vicioso.
Bacana seu texto! Abraço.
Cara sou diego de pelotas, rio grande do sul vi o link do teu blog na comunidade democracia socialista e me enconteri no debate sobre a academia que levantas, é isso meu bruxo o negócio é tocar ficha e pensar numa esquerda numa universidade capaz de dialogar e construir um novo mundo possivel não como mais um modo de vista implantado pela classe dominante mas como algo fruto de uma construção coletiva, de baixo para cima e que seja capaz de refletir este novo mundo possivel mas que mundo é este o meu o teu e o de outros pensadores ou o de 170 milhões de brasileiros? é uma questão a pensarmos e ta mais que na hora da academia para com a pirotecnia do discurso para todos e a ação para poucos, é somente pessoas capazes da consciência de seu papel podem ser sujeitas de sua historia, pois a tendência do oprimido e virar opressor.
Mas as ferramentas estão ai e depende da gente construir este debate parabens pelo tema e siga a luta.
diego das doquinhas
Meu comentário está postado como scrap na comunidade da fadi. Espero que leia, reflita, debata, com consciência, até mais!
Diego, eu tenho esperança que a universidade se transforme e seja atuante na sociedade. Tem nuita gente interessada nisso e acho que podemos vencer esse discurso liberal de alienação social
Fernando, vi a sua postagem, eu estou um pouco sem tempo, mas mais tarde eu respondo na comunidade da Fadi.
Um grande abraço!
Excelente texto, Fábio!
Tenho a mesma sensação ao por os pés na minha universidade.
Só um contraponto: não só os homens pensam pela humanidade, as mulheres tbm!
Bjos.
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