21 janeiro, 2007

Santa María: o mundo de Juan Carlos Onetti

Juan Carlos Onetti foi um romancista e contista uruguaio.

Embora não tenha chegado a completar o ensino secundário, Onetti apresenta em toda sua obra uma estrutura original, inovadora, que rende a ele o Prêmio Cervantes de literatura de 1980. Além do reconhecimento institucional, Onetti gozava de largo prestígio entre os escritores latino-americanos, como Gabriel Garcia Marques, Juan José Saer, Júlio Cortázar e Juan Rulfo.

Entretanto, Onetti foi acima de tudo o demiurgo de Santa María, cidade ficcional que perpassa muitas de suas obras - assim como alguns dos seus personagens. Entre seus livros mais conhecidos estão A vida breve, O poço, Junta-cadáveres, Deixemos falar o vento, entre outros.

Descobri esse autor tardiamente. Acreditava que não havia mais escritores interessantes a encontrar, e que estavam todos mortos. Não. Ainda havia Onetti. E alguns outros que um dia encontrarei.

Gosto, principalmente, dos contos de Onetti.

A seguir, para que tenham uma idéia, transcrevo um trecho do conto A noiva roubada, do livro Tão triste como ela e outros contos:

"Sem harmonia, naquelo outono que padeci em Santa María não acontecia nada até que um 15 de março começou sem violência, suave como o Kleenex que as mulheres carregam e escondem nas bolsas, suave como o papel, os papéis de seda, sedosos, arrastando-se entre nádegas."

Ler Juan Carlos Onetti proporciona um prazer místico, quase sexual.

Em tempo: a ficcional Santa María de Onetti, como a Macondo de Garcia Marques, é nossa Bacaroço. E todas as outras fantásticas cidades latino-americanas, católicas, perversas, maravilhosas, palco dos maiores crimes e dos maiores gestos de generosidade, de ternura. E de crueldade.

4 comentários:

Anônimo disse...

"papéis de seda, sedosos, arrastando-se entre nádegas." Realmente, a prosa dele e diferente.

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto!

Reinaldo disse...

Obrigado, Marcelo.

arìam disse...

Obaaa - dá-lhe Onetti! Merecida homenagem, semana passada o Daniel Piza dedicou um bom espaço da sua coluna no Estadão para relatar a " descoberta de Onetti", maravilhoso!

Parabéns Reinaldo, o texto está muito legal e a homenagem é merecida!