Meu nome é Celso Lungaretti, jornalista e escritor. Como ex-preso político que fui entre 1970 e 1971, tendo sofrido lesão permanente nos porões da ditadura e amargado a perda de pelo menos 20 companheiros e amigos queridos, fiquei chocado ao constatar que a revista Veja, na matéria “Um Perigo Chamado MR-8” (edição de 09/05/2007), havia exumado a propaganda enganosa que os serviços de guerra psicológica das Forças Armadas idealizaram durante o período mais brutal do regime militar, ao qualificar o MR-8 como “terrorista no passado”.
A Veja, que jamais se refere aos déspotas fardados do período como “carrascos” ou “genocidas”, atentou contra o princípio de isenção e eqüidistância que deve nortear a atuação da imprensa, ao encampar a terminologia da extrema-direita, igualando-se aos Brilhantes Ustras da vida.
Escrevi imediatamente carta à redação, cuja publicação deveria servir de desagravo não só a mim, como a todos os ex-presos políticos e suas famílias, insultados pelos conceitos que a Veja emitiu e pelo jargão utilizado.
No entanto, numa demonstração de que sepultou também a obrigação de dar voz ao “outro lado”, a Veja preferiu selecionar para publicação apenas oito cartas louvaminhas que concordavam com os exageros e faniquitos de prima donna com que Diogo Mainardi relatou o episódio em sua coluna, não aproveitando nenhuma das dez mensagens que os leitores encaminharam a propósito do do texto “Um Perigo Chamado MR-8”.
Então, enviei novamente minha carta à Veja, exigindo sua publicação, mesmo que atrasada, como leitor frustrado e cidadão agredido por tal matéria, pois aquele texto inoportuno e tendencioso tripudiou sobre o sofrimento de todos os heróis e mártires que se sacrificaram no limite das suas forças para que o estado de direito fosse restabelecido no País.
Apelo a todos os companheiros, amigos e cidadãos com senso de justiça, no sentido de que abarrotem a caixa de mensagens da Veja com protestos contra suas más práticas jornalísticas e seu desrespeito pela justa indignação dos ex-presos políticos.
Pode ser mandada por carta, para a caixa Postal 11079 - CEP 05422-970, São Paulo, SP; por fax, para (11) 3037-5638; ou por e-mail, para veja@abril.com.br.
Para simplificar, eis um modelo que poderá ser adotado por quem não quiser ou não tiver tempo para criar sua própria mensagem:
Diretor de Redação, VEJA:
Como cidadão com senso de justiça e respeito pela verdade histórica, senti-me agredido pelos conceitos emitidos e jargão utilizado na matéria "Um perigo chamado MR-8" (edição de 09/05/2007). Exijo, portanto, que a Veja cumpra o dever jornalístico de abrir espaço para o outro lado, ignorado na edição de 16/05/2007.
Em seu texto alarmista e tendencioso a Veja encampou a propaganda enganosa da linha-dura militar de outrora e dos néo-integralistas atuais, ao qualificar, logo no subtítulo, o MR-8 de "terrorista na ditadura". Em seguida, afirmou que "O MR-8 e a ALN foram duas das organizações esquerdistas que, sob a bandeira da luta contra o regime militar, promoveram seqüestros, roubos a banco e atos de intimidação".
O regime militar brasileiro foi fruto da usurpação do poder por um grupo direitista que vinha conspirando contra a democracia desde os anos JK e já fizera várias tentativas golpistas (a principal delas quando quase impediu a posse de João Goulart). Ao conseguir êxito em 1964, rasgou a Constituição e governou sob terrorismo de estado.
Os verdadeiros terroristas eram aqueles niilistas do século XIX que, incapazes de conduzir o povo à revolução, tentavam, com balas e bombas, criar o caos e impedir que a classe dominante governasse.
Os movimentos de resistência ao nazi-fascismo e às ditaduras militares latino-americanas jamais quiseram criar o caos, mas sim conscientizar as massas e organizá-las para a derrubada dos tiranos.
Os heróis e mártires que ousaram enfrentar o arbítrio no Brasil, em situação de terrível desigualdade de forças, nada mais fizeram do que exercer o direito de resistência à tirania, que nos foi legado pela civilização grega, tanto quanto a democracia. Devem, portanto, ser tratados com o respeito que fizeram por merecer.
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