Uma Elite Aquém do PAN
Em 1970 o Brasil começou a se preparar para deixar de ser um país em que a existência do esporte amador, até então, havia sido apenas o resultado dos esforços de abnegados. O projeto veio pelas mãos dos generais presidentes. A idéia era ditatorial e antiquada. Mas nem toda idéia ditatorial e antiquada permanece assim em um mundo dinâmico.
Quando veio a democracia, o grande número de ginásios e pistas de esportes começou a ser utilizada por jovens que, logo em seguida, foram notados por empresários das inúmeras áreas que poderiam se ligar ao desporto de competição – da medicina à indústria de roupas e calçados. E isso sem falar da TV, que logo percebeu que atleta, no mundo atual, é uma espécie de artista – e que assim deve ser no âmbito de uma indústria que cresce diante da ampliação do tempo livre – a indústria do entretenimento.
Isso tudo foi unido a um aumento do peso e do tamanho dos brasileiros. As condições do Brasil de se integrar no campo das ciências do esporte também foram melhoradas, e o futebol cresceu tanto e exportou tanto jogadores e técnicos que os subprodutos alcançados, em todos os sentidos, foram distribuídos pelo esporte que foi um dia amador. Eis então que chegamos ao PAN de 2007. De um país medíocre nesse tipo de competição, passamos a disputar os primeiros lugares com os Estados Unidos. Essa trajetória deveria ser investigada com cuidado, pois atravessou governos e até mesmo regimes, e deu frutos.
Filósofos, historiadores, sociólogos e outros scholars deveriam estudar o período e analisar com cuidado as razões do êxito. Afinal, poucas coisas no Brasil passam nas mãos de tantos e dá certo. E deveríamos fazer isso para entender qual a razão de nossa educação não conseguir, no mesmo período, ter o mesmo êxito.
Aliás, o ideal seria começar a entender qual a razão de nossa torcida não ter evoluído como evoluíram o esporte e os atletas. Nossa torcida no PAN foi o exemplo vivo que vencemos no esporte, mas erramos na educação – um estranho descompasso que, na história dos povos, raramente ocorre. Uma torcida que vaia o Presidente da República na abertura dos jogos? Não, nunca imaginei isso. Os estrangeiros presentes, que porventura tinham lido a respeito da popularidade de Lula, ficaram indignados – eles foram os primeiros a dizer que aquilo não combinava com a imagem que faziam do Brasil. Mas não ficou nisso. As meninas americanas subiram no podium e fizeram questão de trazer para o mesmo lugar o segundo e terceiro lugares – sob vaia de uma torcida de gente de classe média e classe média alta, incapaz de entender como se comportar diante do esporte olímpico. Eu assisti aquilo e fiquei ali olhando, com vergonha de ser brasileiro exatamente no momento que eu gostaria de ter orgulho, pois estávamos, nas pistas, campos e quadras, fazendo bonito.
O Brasil está na linha dos países que querem ser sede da Copa de futebol e das Olimpíadas. Talvez possamos ver como que fizemos o certo no esporte e aplicarmos isso à educação, principalmente à educação das classes médias mais abastadas. Essa gente não pode continuar assim. Essa gente é a parte maior de nossas elites, mas são pessoas selvagens. Jogam lixo fora do cesto do lixo, vaiam adversários gentis, soltam palavrões e vaias contra o Presidente da República e, pior, fazem isso em hora de festa, na frente da imprensa internacional. E não só: quebram banheiros dos ginásios e, na saída dos jogos, dirigem com velocidade incompatível com os locais. Essa gente se acha dona do país, mas, ao mesmo tempo, acredita que o país não é um lugar diferente do quintal de suas casas. Essa classe média rica, mimada, conservadora, despreparada mentalmente, ficou aquém dos nossos atletas e do conjunto da sociedade que, pagando impostos, fez o Brasil chegar ao que chegou no PAN.
Paulo Ghiraldelli Jr.
Em 1970 o Brasil começou a se preparar para deixar de ser um país em que a existência do esporte amador, até então, havia sido apenas o resultado dos esforços de abnegados. O projeto veio pelas mãos dos generais presidentes. A idéia era ditatorial e antiquada. Mas nem toda idéia ditatorial e antiquada permanece assim em um mundo dinâmico.
Quando veio a democracia, o grande número de ginásios e pistas de esportes começou a ser utilizada por jovens que, logo em seguida, foram notados por empresários das inúmeras áreas que poderiam se ligar ao desporto de competição – da medicina à indústria de roupas e calçados. E isso sem falar da TV, que logo percebeu que atleta, no mundo atual, é uma espécie de artista – e que assim deve ser no âmbito de uma indústria que cresce diante da ampliação do tempo livre – a indústria do entretenimento.
Isso tudo foi unido a um aumento do peso e do tamanho dos brasileiros. As condições do Brasil de se integrar no campo das ciências do esporte também foram melhoradas, e o futebol cresceu tanto e exportou tanto jogadores e técnicos que os subprodutos alcançados, em todos os sentidos, foram distribuídos pelo esporte que foi um dia amador. Eis então que chegamos ao PAN de 2007. De um país medíocre nesse tipo de competição, passamos a disputar os primeiros lugares com os Estados Unidos. Essa trajetória deveria ser investigada com cuidado, pois atravessou governos e até mesmo regimes, e deu frutos.
Filósofos, historiadores, sociólogos e outros scholars deveriam estudar o período e analisar com cuidado as razões do êxito. Afinal, poucas coisas no Brasil passam nas mãos de tantos e dá certo. E deveríamos fazer isso para entender qual a razão de nossa educação não conseguir, no mesmo período, ter o mesmo êxito.
Aliás, o ideal seria começar a entender qual a razão de nossa torcida não ter evoluído como evoluíram o esporte e os atletas. Nossa torcida no PAN foi o exemplo vivo que vencemos no esporte, mas erramos na educação – um estranho descompasso que, na história dos povos, raramente ocorre. Uma torcida que vaia o Presidente da República na abertura dos jogos? Não, nunca imaginei isso. Os estrangeiros presentes, que porventura tinham lido a respeito da popularidade de Lula, ficaram indignados – eles foram os primeiros a dizer que aquilo não combinava com a imagem que faziam do Brasil. Mas não ficou nisso. As meninas americanas subiram no podium e fizeram questão de trazer para o mesmo lugar o segundo e terceiro lugares – sob vaia de uma torcida de gente de classe média e classe média alta, incapaz de entender como se comportar diante do esporte olímpico. Eu assisti aquilo e fiquei ali olhando, com vergonha de ser brasileiro exatamente no momento que eu gostaria de ter orgulho, pois estávamos, nas pistas, campos e quadras, fazendo bonito.
O Brasil está na linha dos países que querem ser sede da Copa de futebol e das Olimpíadas. Talvez possamos ver como que fizemos o certo no esporte e aplicarmos isso à educação, principalmente à educação das classes médias mais abastadas. Essa gente não pode continuar assim. Essa gente é a parte maior de nossas elites, mas são pessoas selvagens. Jogam lixo fora do cesto do lixo, vaiam adversários gentis, soltam palavrões e vaias contra o Presidente da República e, pior, fazem isso em hora de festa, na frente da imprensa internacional. E não só: quebram banheiros dos ginásios e, na saída dos jogos, dirigem com velocidade incompatível com os locais. Essa gente se acha dona do país, mas, ao mesmo tempo, acredita que o país não é um lugar diferente do quintal de suas casas. Essa classe média rica, mimada, conservadora, despreparada mentalmente, ficou aquém dos nossos atletas e do conjunto da sociedade que, pagando impostos, fez o Brasil chegar ao que chegou no PAN.
Paulo Ghiraldelli Jr.
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