24 setembro, 2007

Direito à memória e à verdade

A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, órgão ligado ao governo federal, lançou recentemente o relatório/livro MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS, considerada o gesto mais importante por parte de um Estado latino-americano no sentido de assumir sua responsabilidade perante a onda de ditaduras que aterrorizou nostra america durante as décadas de 60, 70 e 80 do século XX.
Barbárie política, coordenadas conjuntamente por diversos governos militares em sintonia com a política externa dos EUA, que deixou milhares de mortos e conseqüências sociais e políticas talvez irreparáveis para os povos subjulgados.
Muitos dos homes e mulheres assassinados naquele período sequer tiveram o direito a uma lápide, onde suas famílias possam chorar sua morte.
"Antígona julgava que não haveria suplício maior do que aquele: ver os dois irmãos matarem um ao outro. Mas enganava-se. Um garrote de dor estrangulou seu peito já ferido ao ouvir do novo soberano, Creonte, que apenas um deles, Etéocles, seria enterrado com honras, enquanto Polinice deveria ficar onde caiu, para servir de banquete aos abutres. Desafiando a ordem real, quebrou as unhas e rasgou a pele dos dedos cavando a terra com as próprias mãos. Depois de sepultar o corpo, suspirou. A alma daquele que amara não seria mais obrigada a vagar impenitente durante um século às margens do Rio dos Mortos."
Antígona, personagem de Sófocles, mestre da tragédia grega
Não podemos nos esquecer que aquele período ainda não esta encerrado, a minha geração que nasceu entre o final da década de 70 e o início da dos anos 80, acha que vivemos uma nova era. Engano.
Nós apenas não temos a barbárie política na memóriade, mas essa verdade nos oprime em nossa realidade. Sob a bandeira da anistia (justa), os resistentes que sobreviveram não puderam ser condenados por crime terrorismo ou lesa-pátria, mas, por outro lado, nenhum dos responsáveis pelas torturas, abusos e assassínios foi também julgada. E estão ai presentes na cena política brasileira posando de defensores da moral e da ética, alguns deles dentro da estrutura do próprio governo Lula.
Diferentemente do que dizia o velho Marx a respeito da memória, "A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos", é o desconhecimento dos mortos daquele período que nos deixa ignorantes sobre o pesadelo que se realizou de 64 a 88 e que nos oprime ainda hoje.

Atalho para o Relatório

3 comentários:

Anônimo disse...

Noto a falta de alguns nomes. Onde está o nome do soldado Mario Kozel Filho, assassinado pela VPR no atentado ao QG do II Exército? E o nome do tenente da PM Alberto Mendes Junior, assassinado por Yoshitane Fujimori, também da VPR, a coronhadas e pelas costas (fato omitido na biografia de "Joel" pelo relatório)? E Marcio Leite de Toledo, o "Professor Pardal" da ALN, veterano da organização, "justiçado" pelos próprios companheiros?? Henning Albert Boilesen, Octavio Gonçalves Moreira Junior, Charles Rodney Chandler...
A importância de se abrir os arquivos de um momento tão vil e violento é inquestionável. É de suma importância que todos os envolvidos em torturas e assassinatos sejam, ao menos, responsabilizados (já que, punidos, a Lei da Anistia não nos permite). Porém, esse é um documento que não permite paixões nem bipolaridades. Uma morte é uma morte, seja no Araguaia ou num quartel, independente de direitas e esquerdas. E um assassino é um assassino, seja ele do Exército ou do MR-8.

Anônimo disse...

Excelente contribuição!

Gabriela Bandeira disse...

Edu Lobo - Ponteio

Era um, era dois, era cem,
era o mundo chegando e ninguém,
que soubesse que sou violeiro,
Que me desse um amor ou dinheiro.
Era um, era dois, era cem,
vieram prá me perguntar:
Ô voce, de onde vai, de onde vem,
diga logo o que tem prá contar
Parado no meio do mundo,
senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via,
nem sombra, nem sol, nem vento

Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio
Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio
Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, prá
cantar

Era um dia, era claro, quase meio,
era um canto calado, sem ponteio
Violência, viola, violeiro,
era morte em redor, mundo inteiro
Era um dia, era claro, quase meio,
tinha um que jurou me quebrar
Mas não lembro de dor nem receio,
só sabia das ondas do mar
Jogaram a viola no mundo,
mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo e viola, ponteio,
meu canto não posso parar, não

Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio, ponteio, todo mundo pontear
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar,
pontear

Era um, era dois, era cem,
era um dia, era claro, quase meio
Encerrar meu cantar já convém,
prometendo um novo ponteio
Certo dia que sei por inteiro,
eu espero, não vai demorar
Esse dia estou certo que vem,
diga logo que vim prá buscar
Correndo no meio do mundo,
não deixo a viola de lado,
Vou ver o tempo mudado,
e um novo lugar prá cantar

Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar,
ponteio
Quem me dera agora...