Pepe Vargas - Dep. Federal pelo PT do Rio Grande do Sul
A revista Carta Capital desta semana traz uma matéria jornalística, com o título “Do milho à Cana”, tratando da política de biocombustíveis e, principalmente, das políticas do governo norte-americano em relação ao “rei dos cereais”.A matéria cita o autor do bestseller “Freakonomics”, Stephen J. Dubner , que perguntou em seu blog: “Irá o alto preço do petróleo fazer os norte-americanos ficarem mais magros?”.
A alta dos preços dos combustíveis fósseis leva ao aumento da demanda por biocombustíveis. No caso dos Estados Unidos, etanol produzido a partir do milho. Com isso o preço do milho está subindo. A valorização do milho, por sua vez, encarece o xarope de milho de alta frutose, uma invenção dos anos 70, altamente processada e que utiliza enzimas geneticamente modificadas na sua produção. Isto poderá levar à volta do uso do açucar ou de outros adoçantes menos calóricos.
Assim, os americanos emagreceriam. Estudos recentes mostram que desde a introdução do tal xarope de milho como adoçante dos refrigerantes e da maioria dos alimentos industrializados, o número de obesos aumentou. Dois terços dos americanos estão acima do peso e 20% são obesos. As políticas do milho e da cana nos EUA envolvem interesses de grandes grupos econômicos e interesses políticos internacionais. As quatro empresas que dominam 85% do mercado do xarope de alta frutose do milho são grandes doadoras das campanhas eleitorais dos republicanos, mas também depositam suas espigas no celeiro dos democratas. Em contrapartida o governo dos EUA dá milhões de dólares em subsídios para a cadeia produtiva do milho.
Além disso, taxa fortemente as entradas de açucar ou etanol produzidos a partir da cana em outros países. Isto prejudica as exportações brasileiras e serve para manter o embargo contra o açucar de Cuba. Cada galão de etanol importado paga uma taxa de 54 centavos de dólar, enquanto o governo Bush dá 51 centavos de desconto por galão produzido dentro do país a partir do milho.
Não é preciso dizer que a principal empresa produtora do adoçante de xarope de milho também é grande produtora de etanol a partir deste cereal.
As pesquisas indicam que a digestão, a absorção e o metabolismo da frutose do milho é diferente da glicose do açucar de cana, o que favorece o aumento do peso corporal. Os fortes subsídios ao milho levaram a uma situação em que o uso de adoçantes a partir da frutose fica até 70% mais barato que os de açucar. Isto levou a uma guerra entre as principais produtoras de refrigerantes, para reduzir custos. O preço dos refrigerantes caiu em cerca de um terço, levando a um crescimento do consumo de 40% deste produto, que é a principal causa do ganho de peso dos norte-americanos.
Todo este esquema está em xeque e abre possibilidades para os produtos da cana encontrarem maior espaço. Bom para o Brasil, que produz etanol mais barato a partir da cana e que polui menos do que o produzido a partir do milho. E bom para os americanos, que passarão a usar mais adoçantes a partir do açucar, menos calóricos do que os derivados do milho.
Talvez sobre alguma coisa para Cuba, grande produtora de cana. Isto seria muito bom, uma vez que nada justifica um embargo econômico que prejudica tanto ao povo americano como ao cubano.
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