Em 1992 a cidade de Sorocaba viveu um momento único em sua história: uma eleição em que se confrontavam dois projetos políticos claramente distintos, representados por Hamilton Pereira e Paulo Mendes.
Paulo Mendes representava a modernização conservadora e Hamilton reunia a seu redor toda a esquerda e as forças progressistas da cidade. Foi uma uma disputa acirrada. Para usar o jargão militar, travou-se um combate casa a casa, com lances de guerra suja por parte dos adversários de Hamilton. Paulo Mendes venceu por pequena margem de votos, num resultado contestado, na época.
No calor da disputa, um escritor sorocabano, cujo nome não me ocorre, escreveu um artigo, misto de ficção e análise política, comparando Paulo Mendes, e sua família, aos Buendía, personagens do romance Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques. O livro, considerado por Pablo Neruda o melhor escrito em castelhano desde Dom Quixote, abordava a trajetória de uma família, durante sete gerações, e sua influência nos destinos da mítica cidade de Macondo.
A comparação era perfeita. Entre 1964 e 1977, ou seja, durante mais de uma década, Armando Pannunzio e José Crespo Gonzales, alternaram-se na prefeitura, representando a ditadura militar em Sorocaba e deixando para seus filhos, Antonio Carlos Pannunzio e Antonio Caldini Crespo, a “herança” dos milicos fascistas.
Não por acaso, em 1992, Pannunzio, o filho, era o prefeito e Crespo, também o filho filho seu principal secretário.
Em 1977 uma outra família, ou dinastia, assume o poder. Theodoro Mendes é eleito, sucedido por Flávio Chaves e depois por Paulo Mendes, que governou até 1988. O clã deu frutos, com a eleição de Walter Mendes deputado estadual.
Assim, depois da dinastia Pannunzio-Crespo, passou-se a dinastia Mendes.
Nós, acreditávamos que Hamilton Pereira seria capaz de proclamar a República em Sorocaba, afastando os Mendes-Buendía do poder.
Infelizmente, não foi o que aconteceu, e a dinastia Mendes-Buendía estendeu-se de 1977 até 1996.
O segundo governo de Paulo Mendes foi um desastre completo. Parecia que a cidade de Sorocaba havia sido atingida por um algum tipo de maldição. A educação desorganizou-se, assim como a saúde, a qualidade dos serviços públicos era péssima; as praças estavam abandonadas e as ruas cheias de buracos. Sorocaba era um cenário desolador.
Quando Paulo Mendes-Buendía deixou o poder, respiramos aliviados com o fim de sua dinastia.
Seu sucessor, Renato Amary, venceu as eleições fazendo uma crítica profunda do governo anterior, anatematizando as “famílias” que dominavam Sorocaba – até mesmo porque seu adversário era um Crespo (o filho, mais uma vez) -, e prometendo modernizar a cidade. Novamente uma modernização extremamente conservadora, como veríamos depois.
Ao chegar ao poder, Amary deu início a construção de sua própria dinastia, os Amary-Buendía. Conseguiu reeleger-se, eleger sua esposa e fazer seu sucessor. Pretende ser candidato novamente no próximo ano e eleger seu filho para qualquer coisa. Desde 1997 e ainda até 2008, viveremos sob a nova dinastia Amary-Buendía.
Paulo Mendes, que parece ser o mais esperto da segunda dinastia, deixou o tempo passar, elegeu-se vereador e, curiosamente, fez carreira na câmara municipal sendo o fiel escudeiro de Amary, e depois do prefeito Vitor Lippi; embora tenha sido esculhambado quando Amary foi eleito pela primeira vez.
Na verdade, não há grande diferença entre eles. São membros de “dinastias” que pretendem realizar projetos de modernização conservadora, têm um ego gigantesco. Pannunzio e Crespo, os pais, realizaram diversas “obras”, assim como Theodoro Mendes, Flávio Chaves e Paulo Mendes (no primeiro governo...).
Como gosta de dizer Amary, “mudaram a cara da cidade”.
Theodoro Mendes era tão megalomaníaco que mandou fazer um novo prédio para a prefeitura, usando como base arquitetônica e letra “T”.
Assim, apesar de ter sido satanizado quando foi substituído por Renato Amary, Paulo Mendes sempre foi leal e confiável aos novos senhores. E foi recompensado com a presidência da Câmara Municipal e, finalmente, este ano, aceito nas fileiras do PSDB, a corte da nova dinastia, assim como o PMDB havia sido a corte da antiga dinastia, e a ARENA dos Pannunzio-Crespo.
Muito feliz no ninho tucano, Paulo Mendes prepara-se para disputar mais uma eleição, desta vez não como rei, ou príncipe, mas apenas como súdito, lugar-tenente, da nova dinastia.
Também disputaremos essa eleição. Conseguiremos finalmente proclamar a república em Sorocaba?
texto publicado originalmente no site do deputado Hamilton Pereira
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