O cursinho de abafa multidão foi ministrado por um comandante da Tropa de Choque da Polícia Militar. Os guardas de Sorocaba, além de prestar continência para um PM o dia todo, aprenderam a manusear escudos, a fazer defesa corporal e o uso ofensivo do cacetete.
É muito bom saber que a prefeitura está interessada na formação continuada dos nossos GMs, entretanto, não vejo motivo para se instruir a Guarda no controle de tumultos, visto que esta é uma prerrogativa da Polícia Militar. A Guarda Municipal existe para fazer defesa do patrimônio público municipal, não para coibir manifestações.
A respeito do curso, alguns guardas chegaram a reclamar da excessiva violência do treinamento. Num dos exercícios, que imitava um conflito real, uma coluna “paisana” (de supostos manifestantes) avançava sobre a tropa, que, em linha, defendia-se dos golpes com os seus escudos. Deve ter sido lindo. Um guarda chegou a se ferir no treinamento, ao que pude constatar ele deslocou a clavicola.
Num outro “exercício”, colocaram os guardas num galpão fechado e soltaram granadas de gás lacrimogênio. Perguntei a um amigo sobre o motivo do uso daquele gás, ele me disse que era para se acostumarem com o "cheiro terrível e com a ardência da pele". Não pude ficar quieto e respondi de imediato: E você acreditou nisso? Por acaso acha que ficou imune ao gás, agora?
Não sei não, mas acho que o “Choque” pode ter “tirado uma” com a Guarda de Sorocaba.
De repente veio-me a memória um episódio ocorrido há uns dez anos atrás: em que um grande amigo me chamou à luta, naquele momento ele era militante do PT e hoje está convertido ao Islamismo (desde 11 de Setembro de 2001). Convidou-me para participar de um treinamento de guerrilha urbana no Jardim Santo André, em Sorocaba. Dizia ele, que o treinamento consistia, inicialmente, em soltar uma granada de gás num cômodo fechado e, posteriormente, um exercício de apneia submersa nas águas do rio Sorocaba.
Aquilo tudo era mesmo necessário, pois, naquele tempo, o prefeito de Sorocaba era o Sr. Leôncio – aquele, inimigo do pica-pau. Leôncio pretendia derrubar todos os barracos da cidade em favor de um grande empreendimentos imobiliário. Entretanto, havia muita resistência e quando era chamada, a GM tremia só de saber da presença do famélico Cido Lima no local. Como o uso Tropa de Choque da PM não repercutira muito bem, politicamente, Leôncio, contava apartir de então, com uma atuação mais ofensiva da Guarda Municipal, de maneira que todas as áreas verdes da cidade fossem liberadas para loteamento.
Poucos sabiam, mas o sonho secreto de Leôncio (além de matar o pica-pau, é claro) era possuir uma guarda pretoriana, à maneira dos romanos. E nisso ele nunca teve êxito, coitado. Um dia, testemunhei no Paço Municipal, uma “coluna” de guardas designada para defender o praetorium, em súbito movimento evasivo desordenado (na maior correria) sob forte ataque de garrafas PETs (cheias de água do fosso real) e gansos sinaleiros feitos de lancetas pelo pessoal do Habiteto, enforecidos que estavam por não conseguir tratar pessoalmente com o prefeito. Tragicômico episódio, eu não sabia se ria, ou se chorava compadecido pela sorte daquelas aves, ejetadas contra guardas apavorados.
Hoje o prefeito é outro e a coisa mudou muito.
Voltando ao papo sobre o treinamento com o Choque. Ao relembrar aquele fato lamentável de 1999, perguntei ao meu amigo sobre o local da próxima “aula” do Grupo de Contra Guerrilha de Bacaroço.
Quando ele me respondeu que seria num terreno próximo ao rio Sorocaba, não pude deixar de alertá-lo:
- Começou com gás? Já sei como isso vai terminar! Falte, abone, arrume um atestado, pois esse comandante tá de sacanagem. Eu já conheço essa tática. E se mesmo assim você for, não se esqueça, ao ouvir o comandante anunciar "agora vamos ao treinamento contra gansos", fuja!
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