Ontem a Jornalista Maíra Fernandes do Jornal Cruzeiro do Sul, contatou alguns historiadores para que contribuíssem numa matéria sua sobre a história de Sorocaba, Incao, Cavalheiro e eu insistimos na necessidade de uma revisão profunda de nossa história, a matéria de hoje, que comemora os 353 anos da cidades traz uma síntese dessas idéias.
Publico aqui um trecho do que eu havia ensaiado para um artigo que acabou não saindo, ou melhor, que eu acabei não escrevendo:
A história de um povo nunca é uma evidência exata do que aconteceu, como esteve em voga do final do século XIX até a metade do século XX, trata-se em todos os casos de uma construção, a construção de uma memória, que o historiador como indivíduo não pode controlar pois trata-se de uma construção social que ocorre ao longo do tempo e responde aos questionamentos feitos pelos homens no presente.
Nossa historiografia, sobretudo até os anos 60 e 70, contou a história de uma cidade erguida por heróicos Bandeirantes, mas não gostava muito de contar que os bandeirantes tinham como principal atividade a captura de índios para escravizá-los, nem mesmo contou que a língua falada por estes heróicos “europeus dos Trópicos” que “civilizavam” o interior paulista não era o português, era sobretudo a “língua geral”, uma mistura do tupi com o português, que no nosso caso ainda sofria grande influência do castelhano; é omitido por exemplo que os habitantes paulistas possuíam hábitos de higiene, vestimentas e comportamento, que podiam ser considerados bárbaros por um visitante “europeu da Europa”.
Da mesma forma, a atividade escravista quase não aparece na historiografia, Como é o caso do empresário Matheus Maylasky, cuja imagem foi construída como a de um abolicionista, Carlos Cavalheiro desmonta esta construção ao publicar em seu livro um anúncio de captura de escravos fugidos emitido pelo próprio Maylasky, no período em que ele é tratado pela historiografia como um bom empresário que liberta seus escravos.
A historia de Sorocaba é realmente muito complexa, pois há grande riqueza de eventos colocam-na como um dos centros para que possa entender vários momentos da história brasileira, tais como, o comércio na capitania de São Paulo, crise do Antigo sistema colonial e a industrialização.
No entanto, a historiografia não se renovou, depois da década de 70, mesmo que se deva questionar a relevância desses historiadores hoje, não tem havido bons trabalhos, aliás, tem, só que são muito fragmentados e nós não temos um órgão fomentador de pesquisas, como exerceu no passado a Fundação Ubaldino do Amaral, Gabinete de Leitura e a própria prefeitura - que fomentaram uma história da elite sorocabana.
A história precisa ser revista, Sorocaba apesar de ter tido um papel econômico de destaque no passado, comparativamente muito maior que hoje, não esta inseridas nas grandes discuções sobre historia econômica, não digo que historiadores não estejam participando, e não estão, mas nossa história sequer é citada, quando isto acontece são alusões vagas, mas acredito que o estudo exaustivo de alguns temas podem fornecer chaves importantes para o entendimento da história do Brasil
4 comentários:
Fábio:
Parabéns pelo texto. Muito bom.
Acredito que, em breve, poderemos contar com novas percepções sobre a história de Sorocaba, através de textos que serão escritos por você.
É um grande orgulho tê-lo como colaborador deste blog e como amigo
Obrigado Reinaldo
Existem bons historiadores atualmente, no entanto, só ha fragmentos de pesquisa histórica, Carlos Cavalheiro e Coutinho, por exemplo, trabalham as próprias custas , a pesquisa cientifica no país foi profissinalizada apartir da década de 70 e não há espaço para trabalhos esparços. A única forma de sairmos desta situação é pela construção de um órgão de fomento à pesquisa.
As pesquisas de Cavalheiro trazem apontamentos do que poderá ser um trabalho de grande envergadura na área da história cultural, no entanto, é preciso acima de tudo de fomento até para mais pessoas possam pesquisar. Não existe mais trabalho solitário na história, nem em sociologia, as pesquisas de Florestan Fernandes foram embasadas em dezenas de monografias de colegas seus, o que demanda um grande custo.
Procurei procurei e ñ achei porra nenhuma coloca alguma coisa sobre a cultura de Abacoros
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