30 dezembro, 2007
Do blog do Martinho (Blog Aldeia Giramundo)
24 dezembro, 2007
Fernando Radin Bueno: você sempre estará comigo!
23 dezembro, 2007
E por falar em peso pesado...
Um desses pousou em Sorocaba esses dias, eu juro que vi!
22 dezembro, 2007
O governo Lula é um governo de merda. Mas é nosso governo de merda.
"Não é pouca coisa. Não sei se tudo isso “mudará o Brasil”. Sei que não quero entrar na história como um dos linchadores de Lula e de um governo que eu ajudei a eleger. Como disse Maria da Conceição Tavares, parodiando a confusão que se estabeleceu no Chile no governo Allende: “É um governo de merda, mas é o nosso governo de merda."
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Artigo muito interessante de Bernardo Kucinski, publicado pela agência Carta Maior, tratando, em particular, da discussão sobre a transposição do rio São Francisco.
Bernardo Kucinski é jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).
21 dezembro, 2007
19 dezembro, 2007
A esperança é a última que mata
Atualmente, o Laurez é chefe de Gabinete do Deputado Paulo Teixeira em Brasilia. Começou com Florestan Fernandes. Laurez é um grande escritor. Um brilhante professor. Um ótimo papo! Publico artigo redigido por ele, em 19 de setembro de 2005.
Enquanto conversávamos sobre o PT, ainda hoje, questionei sobre o Florestan. Respondeu-me, com seu jeito sereno, equilibrado, e com os olhos marejados:
-Quanta falta ele faz!
A esperança é a última que mata
Este verso do poeta brasiliense, Nicolas Behr, parece traduzir o sentimento de grande parte dos militantes do PT neste momento. Principalmente daqueles que surfaram na onda que se ergueu nas ruas e se espatifaram nas instituições da "república senhorial". Quem não tinha clareza da estratégia pode estar sofrendo mais, pois para eles parece que o sonho acabou.
Aqueles que se dedicaram aos núcleos de base do partido, no final dos anos 70 até os anos 80, e se firmaram na construção de uma estrutura pedagógica realmente libertária, foram abandonados no caminho pelo expresso apressado, que partiu direto do ABC para o ano 2002, como se a presidência da "república senhorial" fosse o fim da linha da história.
Os que resistiram à burocratização partidária, agora se erguem das cinzas como Fênix. Afinal, o Brasil não conquistou a verdadeira República democrática. Sequer conseguiu a abolição, pois "a conciliação pelo alto", como dizia o professor Florestan Fernandes, predominou nos momentos de ameaça de ruptura "pelos de baixo".
A "tática" de ocupar espaços nas instituições e transformá-las por dentro, como preconizado nos primeiros anos do PT, foi dando lugar ao carreirismo político. O partido foi sendo tragado pela burocracia estatal. As teses dos teóricos libertários, de que as forças da cultura do Estado burguês são poderosas, domesticam os rebeldes e na maioria das vezes os transformam em agentes dissipadores da rebelião de classe parece confirmada nesta crise. Poucos continuaram fieis à construção de uma outra ordem, que não a vigente.
A disputa por cargos de prefeito, vereador, deputado estadual, federal, senador, governador e depois presidente da República, tornou-se o objetivo maior do movimento. Sindicatos e outras entidades foram utilizados como trampolins para mandatos eletivos.
Os mandatos eletivos, na sua maioria, privados, ("pessoal de fulano", "pessoal de cicrano", no jargão interno do PT), em muitos casos funcionam como condomínios de interesse. Perderam a liga coletiva e se transformaram em instrumentos de barganha política.
Nos debates e decisões internas já se sabe com antecedência os discursos e os votos de cada um.
A crise partidária é grave e o momento é de ruptura dessa estrutura viciada. Apesar de tudo isso, não há como negar que o PT teceu uma cultura política nova no país. O PT, sem demérito dos demais partidos da esquerda, cumpre uma importante função pedagógica suplementar ao sistema educacional oficial na sociedade ao participar decisivamente do processo de aprofundamento da democracia e da promoção da cidadania. A intolerância da sociedade com a corrupção, em grande parte deve-se ao trabalho do PT na luta pela democratização do Estado. A crise do PT, que atingiu o governo Lula, não é um fenômeno recente, isolado. Toda a institucionalidade, nos seus mais variados níveis, passa por um momento difícil. Lula foi eleito com o que restou da estrutura dos movimentos sindical e popular construídos nos anos 70 e 80, e, evidentemente, com o financiamento do empresariado de diversos ramos de atividade, duramente atingidos pela abertura econômica promovida pelos governos da década de 90.
É cada vez mais dramática a situação das centrais sindicais, dos poderosos sindicatos, que mobilizavam multidões no passado. Os movimentos pulsantes e ascendentes daquele período foram dando lugar a corridas eleitorais, com exceção de alguns movimentos como o MST, que se mantém numa perspectiva de rebelião permanente. Os movimentos vivem o dilema de apoiar o governo Lula e condenar sua política econômica. Isto porque, segundo integrantes do governo, o projeto econômico original debatido pelo partido foi abandonado em razão das dificuldades políticas para se governar.
A professora Maria da Conceição Tavares e outros grandes economistas da mesma linhagem que participaram ativamente da formulação do projeto econômico do governo Lula, a certa altura, desistiu do debate, pois viu ganhar força a política econômica que ela contestou no governo Fernando Henrique Cardoso. Portanto, o projeto econômico de economistas como ela, Aloízio Mercadante e outros, não é o que está em execução. Queriam uma política econômica de pleno emprego, perfeitamente viável. Mas, apesar deste desgosto, quando o governo Lula é atacado por quem quer que seja, Conceição responde aos críticos com uma frase, segundo ela, vista numa faixa empunhada numa manifestação de apoio ao governo Salvador Allende, no Chile, nos anos 70: "Este es un gobierno de mierda, pero es mi gobierno, mierda!".
Outro aspecto da eleição de Lula, que pouco se comentou, é que um percentual importante dos votos que o elegeu veio de setores da classe média e média-alta, depois de intenso trabalho do partido, na tentativa de desconstruir o preconceito que havia em relação a Lula e ao PT. Segundo as pesquisas, esse setor foi o primeiro a descolar logo no primeiro ano de governo, devido à reforma da previdência, aumento da taxa de juros para conter o consumo, e, recentemente, após a onda de denúncias de corrupção. Esse eleitorado parece ter feito uma concessão ao votar no operário candidato.
Com o que restou da estrutura do movimento social dos anos 70 e 80, Lula montou uma mesa de negociação para tentar viabilizar um projeto de inclusão social abrangente, com o empresariado e com a elite conservadora, mantendo a política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso e até radicalizando mais em certos aspectos, como o superávit primário e as metas de inflação. Ao todo são 293 programas na área social. Lula tenta construir um mercado de consumo interno com a irrigação da economia através dos recursos dos programas de transferência de renda. Mobiliza volumosos recursos nacionais e internacionais para a construção da infra-estrutura de desenvolvimento econômico (energia, portos, ferrovias, estradas, etc.) que ficou sem investimentos adequados ao longo de duas décadas.
Enfim, fez-se concessões até demasiadas na expectativa de que seria viável um governo de diálogo e de união nacional para superação das dificuldades, principalmente as econômicas e sociais que chegaram a uma situação dramática. O que se percebe é que a maioria da elite política e empresarial parece não compreender o país que vive, qual a dimensão real da crise política e para onde ela evolui. O comportamento da grande imprensa nesta crise, salvo raras exceções, demonstra isso.
Entre outros órgãos de imprensa, merece destaque a sanha golpista da revista Veja. As denúncias estão sendo utilizadas como pretexto para destruição da maior organização política construída "pelos de baixo" no Brasil, e do seu líder maior, Lula. No poder, certamente, o tratamento dispensado ao PT e ao seu governo, não seria diferente.
O fato é que o PT sempre foi tratado como um intruso no cenário político nacional. Nasceu nas ruas sob nuvens de gás lacrimogêneo, rompendo cercas no campo e sobrevive à ferocidade da grande imprensa. Mas muitos petistas alimentavam ilusões de que em plena vigência do "estado democrático de direito" instituições democráticas como o PT, a CUT e o MST seriam respeitadas "pelos de cima".
Esta crise está deixando uma lição para "os de baixo": enganam-se aqueles que preconizam o fim da luta de classes. O Brasil é um país continental e complexo, urbanizado, com uma configuração de classes nitidamente marcada pela desigualdade. Caso crise continue alimentada por denúncias infundadas contra governo Lula, não sobrará alternativa para o campo da esquerda que não a radicalização dos movimentos. O quadro político que começa a se esboçar para o futuro é de rompimento com o diálogo.
Está ficando claro que a tentativa de diálogo com "os de cima" é uma perda de tempo. Não vivemos mais numa "Guerra Fria". Os militares, que foram utilizados "pelos de cima" em vários ciclos da história para manutenção dos privilégios dos ricos, nesse momento estão mais identificados com os problemas dos de baixo.
Enfim, não se deve perder a perspectiva de que isto é uma luta e os campos estão sendo demarcados. Resta saber de que lado cada um está lutando e se está lutando bem ou mal. Tudo indica que estamos caminhando para o que sintetizou a cantora Cássia Eller em uma de suas músicas:
"defenda teu pão no pau, marginal!"
18 dezembro, 2007
Ainda sobre a CPMF
Tanto que os líderes da oposição já se dispuseram a discutir e votar um “substituto” para a CPMF logo no início do próximo ano. Não são bobos. Afinal de contas, o prejuízo político que pretendem causar ao governo Lula também se estenderá a estados governados por tucanos, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Apesar disso, o governo tem que reconhecer sua responsabilidade pela derrota. Há cinco anos que se insiste na necessidade de uma reforma tributária, de caráter progressivo, que desonere a produção, acabe com a guerra fiscal, mas mantenha a capacidade de investimento por parte do Estado. O tempo foi passando, o governo não enviou qualquer proposta ao Congresso Nacional e, por fim, tentou prorrogar a CPMF, um tributo extremamente impopular, apesar de justo e eficaz no combate à sonegação.
Lula também errou quando, tentando convencer a oposição, fez um “mea culpa”, dizendo que estava errado quando se opôs à CPMF, criada por FHC. Não estava. A CPMF foi criada depois de dezenas de privatizações, quando grande parte do patrimônio público havia sido leiloada, “no limite na irresponsabilidade”, sob o argumento que o dinheiro recebido seria usado “na saúde e na educação”. Nessas circunstâncias, como apoiar a criação de um novo tributo?
Desse ponto de vista, Lula teria muito mais razão ao mantê-lo, depois de assumir um país arrasado economicamente pelo tsunami demo-tucano.
O fundamental é a consciência de que o Estado deve preservar sua capacidade de investimento e de garantir direitos sociais. É verdade que o Estado Brasileiro - executivo, legislativo e judiciário, em todos os níveis -, gasta desnecessariamente com “aspones”. Rouba-se muito e de forma escandalosa, e a gestão pública é, para dizer o mínimo, temerária.
Apesar disso, o governo deve investir em infraestrutura, garantir a segurança alimentar. Universalizar, com qualidade, o acesso à educação, saúde, segurança e cultura. Tudo isso custa dinheiro, que é arrecadado através dos impostos.
Protestar contra os gastos desnecessários é justo. Mas a essência do discurso demo-tucano não é essa. Eles querem (hipoteticamente) reduzir impostos, privando a população de direitos sociais, reduzindo e sucateando serviços públicos. É o mesmo discurso do Bush.
E em contradição com o discurso atual, demos & tucanos, quando tiveram a oportunidade de reduzir impostos, não o fizeram.
Niemeyer, nova obra na Espanha
Gente bonita, uni-vos!
Venha conhecer nossa variedade de pratos em formato de criancinha (somente carne de soja!) e ouvir belíssimas interpretações de "La internationale" para piano.
17 dezembro, 2007
17 de Dezembro de 1989
O Portal Vermelho diz que hoje é o "dia do Lula", eu acho que deveríamos chamá-lo de dia a Mídia
Derrubou-se a ditadura militar e assumiu seu lugar uma nova ditadura, o despotismo da mídia burguesa.
15 dezembro, 2007
Delenda est Lula!
Depois de meses de negociação, o governo não conseguiu maioria qualificada no Senado Federal e foi derrotado na votação sobre a prorrogação da CPMF. A "contribuição", criada pelo ex-presidente FHC, era usada, em grande parte, para financiar os gastos com a saúde.
Governadores tucanos, José Serra (SP), Yeda Crusius (RS) e Aécio Neves (MG), tentaram ajudar o governo a conseguir maioria no senado, mas foram derrotados pelo desejo de vingança de FHC.
FHC, ao lado de Fujimori (Peru), Menen (Argentina) e Salinas (México), faz parte da geração que arrasou a América Latina, impondo reformas neoliberais que faliram as economias nacionais e, de forma criminosa, deram lucros altíssimos para poucos e privilegiados. Por enquanto, apenas Fujimori está preso, sendo julgado pelos crimes que cometeu contra o povo Peruano.
FHC, que ainda não foi preso, decidiu fazer "sangrar" o governo Lula. Organizou a bancada de senadores do PSDB, a reboque dos Demos, para derrotar a prorrogação da CPMF. Sem se importar com os danos que tal medida causaria ao país, aos estados e prefeituras governados pelo próprio PSDB. O único objetivo na vida ed FHC é "sangrar" o presidente Lula.
Porque ele, FHC, o príncipe dos sociólogos, que "fala corretamente" e "mais de uma língua", quando deixou a presidência, estava mais sujo que pau de galinheiro, não podia andar na rua, pois corria o risco de ser trucidado. Quatro anos depois, na reeleição de Lula, os tucanos escondiam FHC como a um leproso, para afastar sua lembrança do povo Brasileiro.
Lula foi reeleito e seus níveis de aprovação popular são dos mais altos. Apesar da oposição ferrenha da opinião publicada, dos escândalos. O governo do PT - de um "baiano", que "não fala corretamente", nem "sabe usar os talheres" - foi, muito, mas muito superior ao dos tucanos.
De forma geral, os tucanos desejam desgastar Lula, derrotá-lo em 2010. É legítimo, faz parte da democracia.
Já FHC quer vingança. Quer destruir Lula, apagá-lo da história, enlamear sua reputação.
Marcelo Ambrósio, em coluna no jornal do Brasil, recordou a história de Roma. No ciclo das três Guerras Púnicas (264 a 241 a.C.), romanos e cartagineses disputaram a supremacia no Mediterrâneo. Depois das muitas batalhas, o ódio dos romanos contra os cartagineses transformou-se em sentimento nacionalista. No século II a.C., coube a Catão, o Censor, personificar obsessivamente uma campanha pela destruição de Cartago. Nos seus discursos, no Senado, Catão sempre os encerrava com a frase Delenda est Cartago (Cartago seja destruída). O sucesso dessas pregações selou o destino da cidade. Cartago seria arrasada e teria suas terras aradas e saturadas de sal, além de receber uma grande maldição.
FHC brada: Delenda est Lula!
14 dezembro, 2007
13 dezembro, 2007
Processo de eleições diretas do PT/ 2 turno Justificativa de voto
Governabilidade
12 dezembro, 2007
Já na avaliação negativa, 17% qualificam o governo como "ruim" ou "péssimo". Este indicador caiu um ponto percentual em relação a setembro, quando 18% da população avaliou desta forma o governo.
A nota média para o Governo Lula manteve o patamar de 2007, e foi de 6,6 em dezembro, segundo o levantamento. Há um ano, a nota média era 7.Para se chegar aos resultados, foram entrevistadas 2.002 pessoas (com 16 anos ou mais), em 141 municípios, entre os dias 30 de novembro e 5 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Com informações da Folha Online.
11 dezembro, 2007
A "Mensagem ao Partido" e o segundo turno das eleições internas do PT
"A avaliação que temos do significado das candidaturas Berzoini e Tatto expressa os motivos de termos adotado a candidatura de José Eduardo Cardozo.
"Não somos partidários simplesmente da mudança de dirigentes, pela simples mudança. Muito menos seremos partidários de substituições que aprofundem os elementos causadores de nossa crise, que ameaça transformar o PT num partido eleitoral dominado pela lógica fundada em carreiras individuais. Como a candidatura de Jilmar Tatto se nos afigura como uma mudança para pior, não temos razão para apoiá-la, por seu falso apelo oposicionista.
"A candidatura Berzoini representa a tentativa de dar continuidade ao modelo partidário implementado pelo antigo campo majoritário, modelo esse que permitiu que se desenvolvesse um ambiente de perda de vitalidade ideológica e política e abriu espaço para alternativas, como a representada por Jilmar Tatto, que não só consideram “normal” como se, vencedoras, aprofundariam todos os aspectos negativos que vemos na prática do partido sob o comando do antigo campo majoritário.
"Assim sendo, embora reconhecendo que, nenhuma das alternativas presentes no 2º turno representa a mudança necessária que propugnamos para o PT, a Mensagem, com base nesta análise, convoca a militância a participar ativamente do processo de 2º turno no PED, em todos os níveis, votando de acordo com a sua consciência no que entender como melhor para o PT. Essa posição da Mensagem reforça a necessidade de continuar organizando e fortalecendo um movimento de opinião permanente, amplo e plural para a defesa de um perfil democrático, socialista, ético e militante para o PT combinado com a defesa de um programa da revolução democrática.
"Reafirmamos, como centralidade de nossos esforços nas novas direções partidárias e na nossa militância, a luta por um programa de esquerda para avançar na revolução democrática em curso e na superação da crise do PT, dispostos a nos somar com todos aqueles que, como nós, tiveram ou desenvolveram uma visão crítica sobre os processos vividos e renovaram as energias para refletir no cotidiano os objetivos estratégicos de nosso partido."
Plenária Nacional da Mensagem ao Partido.
fonte: Democracia Socialista
08 dezembro, 2007
Juventude e Revolução
La Insignia. janeiro de 2005.
O papel atribuído à juventude nos séculos passados foi o de simplesmente substituir os mais velhos. Ou seja, implicitamente, a juventude foi quase sempre negada. Tratava-se de pré-adultos à espera de sua hora e sua vez.
No início da modernidade, os jovens se tornaram uma categoria social. Nem por isso, fizeram-se portadores das novidades. A derrota dos jacobinos, por exemplo, abriu espaço para os jovenzinhos da época do Diretório: ricos e contra-revolucionários.
Foi somente no século XX que a juventude ligou-se a dois atributos essenciais: o consumismo e o sexo. Afinal, esta categoria pode suportar por mais tempo a ambos, desde que as mercadorias sejam compradas com o dinheiro dos mais velhos. Podia-se falar em juventude (de um modo geral), pois nesta fase em que os corpos ainda não se decompõem a olhos vistos, as classes sociais apagam-se momentaneamente.
Ainda assim, os jovens de classe média (pois, apesar de tudo, é um erro não separar a juventude em classes sociais) não se viam como revolucionários em si e por si mesmos. Os jovens do Partido Comunista Alemão e os do Partido Nazista receberam, por certo, o apelo típico dos anos 20 (quando a política radical os descobriu como base mobilizável), mas não pertenciam aos estratos remediados. Ao contrário, eram majoritariamente trabalhadores (ou desempregados) e com escassa instrução escolar.
Os anos 60 descobriram novos jovens. Membros das classes médias com educação superior (em curso), eles passaram a se considerar também uma vanguarda política e cultural. Nunca o tinham sido. Nos partidos comunistas eles pertenciam às sessões juvenis, mas só ascendiam ao comando (salvo exceções) depois dos trinta anos. Gramsci só assumiu um cargo importante no recém criado Partido Comunista da Itália aos 30 anos, pois no PSI não passara de um influente articulista de jornais radicais.
Em 1968, os estudantes descobriram do dia para noite que tinham a possibilidade de parar um país e amedrontar a burguesia combinando protesto político com audácia comportamental. Mas estavam errados. O medo durou enquanto os operários estavam em greve. E a ousadia dos gestos e das vestes foi rapidamente absorvida pelo mercado. O problema é que os parisienses (como já dizia Tocqueville) não sabem fazer duas coisas ao mesmo tempo. Assim, têm a hora de fazer a Revolução e a de fazer a festa.
Todavia, Maio de 1968 fez outra revolução silenciosa. Talvez ela tenha começado antes com a calça jeans ou o Rock. Ela conquistou hegemonia cultural. E o fez com a promessa de abolir hierarquias e rituais. Assim, jogou os homens e mulheres de todas as idades em meio a um mundo aparentemente sem diferenças (quando tudo o que se queria era o contrário disso).
Os próprios jovens de classe média, ao verem projetadas suas culturas nos meios de comunicação de massas, conquistaram aquilo que Gramsci chamaria de direção intelectual e moral sobre as demais gerações. Hoje, todos devem ser jovens qualquer que seja a idade. Afinal, o que importa é o espírito juvenil (convenientemente associado à indústria da estética corporal). Mas os jovens de 68 envelheceram. E houve a tragédia (talvez uma farsa, para lembrar o velho Marx). Antes eram jovens em revolta contra os adultos.
Depois, como num conhecido filme aterrorizante, tornaram-se fantasmas que não percebem que já morreram. Eles partilham com seus filhos a mesma cultura, as mesmas vestes, a mesma música, as mesmas drogas. Agindo assim retiram das novas gerações a possibilidade da autêntica revolta.
Hoje, embora o distanciamento histórico ainda não permita concluir com segurança, pode-se dizer que a juventude "meia oito" conseguiu um feito único: projetou sua hegemonia "geracional" no tempo. E o fez, negando-se a envelhecer. Ao fazê-lo, ela cometeu o ato mais egoísta de libertação: liberou-se a si própria ao mesmo tempo em que escravizou para sempre todas as gerações futuras. Doravante, estas não poderão mais romper tabus, pois os velhos jovens de 68 aparentemente já romperam todos.
A juventude atual deveria procurar suas próprias armas. Mas têm uma tarefa inédita. Precisa combater num mundo onde todos se disfarçam de jovens.
(*) Lincoln Secco é professor do Departamento de História da USP.
07 dezembro, 2007
Eduardo Galeano: Estranha ditadura de Chavez
Eduardo Galeano
Por que Chávez perdeu
Já passava da uma da manhã de quinta-feira 29 quando o celular tocou no quarto do hotel Las Americas, em Caracas. Atendi. Era o ministro das Comunicações, William Lara, com uma ótima notícia: o presidente Hugo Chávez havia aceito minha solicitação de entrevista e iria falar comigo no avião às 15h daquele dia, enquanto se deslocava para o sul do país. Oba, pensei. Após uma semana na capital venezuelana, tinha muito o que perguntar ao comandante.
Eu e Lara combinamos que um carro do ministério passaria para me apanhar no hotel à uma da tarde. Mandei a matéria que preparei sobre o país para a CartaCapital e fiquei à espera. Enquanto isso, lá fora, os manifestantes contra a reforma ocupavam as ruas de Caracas. O trânsito na cidade, que já é péssimo, estava infernal.
Às duas, Lara me ligou perguntando se eu me importava de que uma moto fosse me apanhar, porque era impossível chegar a tempo de carro. “Por mim, tudo bem”, eu disse. Em cinco minutos o motoqueiro chegou. Subi na garupa e rapidamente me arrependi: o sujeito pilotava como louco pelas ruas tomadas de carros e manifestantes, costurando entre os veículos, como os motoboys de São Paulo. Pensei: “Putz, vou morrer na Venezuela”. Descabelada, sem capacete, os olhos lacrimejando, o nariz escorrendo. E o motoqueiro a toda pastilla.
Enfim, chegando na estrada que dá para o aeroporto, um carro faz sinal para que paremos. Era Lara com uma péssima notícia: em virtude de um terremoto na Bolívia, o comandante cancelou o evento que faria no sul e, por conseguinte, a entrevista. O ministro me pediu desculpas várias vezes, e eu tranqüilamente respondi:
- Otra vez será.
Naquele momento senti que Chávez perderia. Obviamente, com as pesquisas apontando para um empate (pelo resultado final, a diferença a favor do No foi mínima), não me arrisquei a cravar a vitória da oposição na reportagem que está na revista. Mas algo me dizia que o presidente recusara a entrevista na última hora porque possuía elementos para acreditar na derrota. A cara preocupada de Lara também dava sinais de que as coisas não iam bem para o governo.
E por que não foram bem? Na minha modesta opinião, porque Chávez, em vez de ganhar, perdeu aliados. Não falo só do general Raúl Baduel, falo do povo venezuelano. Vi que as pessoas estavam com medo, que não queriam ir fundo em um socialismo que não sabem direito o que é e perder o pouco que têm. E que conseguiram, justiça seja feita, por causa das políticas engendradas pelo próprio comandante. Em suma, faltou-lhe habilidade não só para conquistar mais adeptos para sua revolução como para manter os que já possuía. Da forma como agiu, em vez de reduzir a oposição, a alimentou. Os esquálidos estão gordinhos agora.
Não resta dúvida que Hugo Chávez é a maior novidade política do planeta. Sem ele e Evo Morales, na Bolívia, o mundo ficaria muito igual, por um lado, e, por outro, mais desigual. Mas ele ainda precisa entender a lição que ficou dos regimes caídos na União Soviética e Alemanha, e mesmo na terra de Fidel Castro: socialismo não tem nada a ver com falta de democracia. Escutar, sobretudo respeitar, os descontentes faz parte do processo de unir um país em torno de um projeto.
05 dezembro, 2007
Um assassinato que não é notícia
O crime aconteceu na sexta-feira (30). Nem mesmo a forma escabrosa do assassinato fez do fato uma notícia nos jornalões: de noite, ao chegar ao seu depósito de materiais de construção, foi pego por quatro encapuzados e enforcado com fios. “Uma morte horrorosa. O corpo ficou exposto do lado de fora da loja, de modo que quem passava na estrada podia ver”, relata um dos seus amigos.
São Bento fica encravada na Serra da Mantiqueira. Tem recebido muitos turistas. Alguns artistas e intelectuais montaram casas de campo. A gestão do Geraldo, segundo essas pessoas, foi correta e não houve corrupção. Arrecadou muito impostos, como o IPTU, o que gerou alguma insatisfação política. Incentivou a educação e a cultura. Não fez grandes obras na cidade.
Geraldo sofreu ameaças anteriormente. Quando Celso Daniel foi assassinado, ele recebeu ameaças e reforçou sua segurança. Seus amigos divulgaram segunda-feira (3) um manifesto exigindo imediata e rigorosa apuração do crime: “(...) esperamos que haja rigor da perícia policial para o desvendamento desse crime hediondo, confiantes nas autoridades competentes, para que não haja omissão nem postergação da apuração dos fatos, nem parcialidade e nem impunidade, pois assim se faz necessário para que a sociedade encontre na lei a ordem e a paz desejadas...”
fonte: Agência Carta Maior
04 dezembro, 2007
03 dezembro, 2007
E a ditadura?
Ontem a proposta de Chaves foi derrotada. O "sim" teve 49,3% e o "não" recebeu 50,7% dos votos.
Primeira conclusão: um ditador não perde uma eleição por 0,7%. Nem alguns pretensos democratas, como Bush Júnior, que roubou bem mais do que isso para ser eleito pela primeira vez.
Na Venezuela, o eleitor tem que colocar seu dedo indicador numa tela digital que o reconhece e mostra sua fotografia, como é comum hoje em alguns prédios de escritórios e repartições públicas de Brasília. Depois, tem esse seu dedo marcado com uma tinta que só sai depois de 24 horas, para que ele não volte e tente arrumar confusão, dizendo que outra pessoa se passou por ele.
Após votar na urna eletrônica, uma máquina imprime o tal papel confirmando sua opção, como se quer fazer no Brasil, e ele, então, deposita esse voto numa urna física. Se por algum motivo se fizer necessária uma recontagem, basta abrir a urna física e conferir se o resultado bate com o da eletrônica.
Isso tudo foi implantado nesses anos de governo Chávez. Antes, era um absurdo. Voto só no papel e com um título fajuto. E a maior parte da população nem sabia como tirar o título de eleitor. Nos anos Chávez o número de eleitores na Venezuela mais do que dobrou.
Pode-se criticar Chaves, discordar de suas idéias ou métodos, mas classificá-lo como ditador é um absurdo.
Uma última observação: o Daniel mencionou, em carta ao jornal Cruzeiro do Sul, que se fosse aprovada a proposta de Chaves, e depois vencesse um candidato "de direita", que buscasse se perpetuar no poder, não teríamos como contestá-lo.
Companheiro Daniel: a direita nunca fez questão desses artifícios e "detalhes" constitucionais. Se necessário, fecha parlamentos, prende, mata, arrebenta.
Projeto de Lei garante recursos para software livre
O intelectual que estrupô o valor
Há alguns dias, acompanhamos pela televisão a cena de um ato verdadeiramente bárbaro praticado por um delegado de polícia no Pará, uma menor de idade foi presa e colocada numa sela junto a 20 prisioneiros, sendo assim violentada sexualmente. O bacharel disse em entrevista que a menina de 15 anos “certamente tem alguma debilidade mental porque em nenhum momento informou ser menor de idade”.
Ao criticar a atitude do delegado de paraense nesta segunda feira, lula adicionou mais um capítulo a polêmica: "Se ele [o delegado] fosse bem formado e a escolaridade valesse na formação do seu caráter, ele teria levado a menina e dado a cadeira dele para ela e teria ficado em pé, porque ele estaria fazendo o que uma pessoa de bem faria. Mas o que ele fez? Ele viu aquilo como algumas pessoas vêem o Brasil, aquilo, essa menina, é um objeto e tem de ser jogado às traças".
Gostaria muito que o grande Florestan Fernandes estivesse vivo para dar-nos a sua contribuição a respeito da polêmica, Florestan foi professor e orientador de Fernando Henrique na academia e, no entanto, apoiou o ignorante Lula em 1994 contra seu pupilo e prodígio da USP.
01 dezembro, 2007
Trabalhadores
Ontem eu assisti o Globo Reporter, especial sobre os trabalhadores, ou algum outro título parecido.
Uma reportagem super tendenciosa, mostrou o corte de cana, uma das atividades mais insalubres no campo como uma profissão de engrandecimento do homem. Juntaram o depoimento de um trabalhador orgulhoso que disse não pretender jamais deixar de cortar cana e os dados de um sindicato ruralista informando que o corte de cana é a atividade que melhor remunera na agricultura.
Sem falar da entrevista do presidente do Instituto Ethos (participante do Movimento Cívico Cansei) que louvando a boa vida dos trabalhadores no campo.
É claro que a reportagem não mostrou que o corte de cana é a atividade que mais deixa mortos na agricultura brasileira, por picadas de cobras e por esgotamento físico e desidratação, além das inflamações e intoxicação causada pela fulígem; sem falar nos inúmeros casos de cegueira causados pela folha afiada da planta e membros decepados pelo corte da foice afiada.
Depois mostrou os casos de trabalhadores em diversas profissões que superaram as dificuldades e podem levar uma vida tranquila.
No final eu até pensei, o capitalismo é a melhor regime para o Brasil.
A geografia da fome de Josué de Castro
“O subdesenvolvimento não é, como muitos pensam equivocadamente, insuficiência ou ausência de desenvolvimento. O subdesenvolvimento é um produto ou um subproduto do desenvolvimento, uma derivação inevitável da exploração econômica colonial ou neocolonial, que continua se exercendo sobre diversas regiões do planeta”.
Josué de Castro, autor de clássicos como Geografia da fome e Geopolítica da fome.